O chefe de análise de risco soberano da agência de classificação de risco Moody’s para a América Latina, Mauro Leos, afirmou nesta terça-feira, 21, que o aspecto mais negativo do Brasil hoje é fiscal e ressaltou que, se o ajuste fiscal não for feito no lado das despesas, com destaque para a reforma da Previdência, o governo central continuará tendo déficits. “Todo mundo sabe disso, até minha mãe sabe disso”, afirmou o executivo, que participa da 12ª edição do Seminário Internacional da Acrefi (Siac).
“O que preocupa no Brasil é a composição dos gastos, porque mais da metade das despesas é para transferência e as aposentadorias são parte importante, o que é difícil de mudar do ponto de vista político. Tem de ir no Congresso para lutar por isso”, afirmou. “Além disso, mais de 20% das despesas são para pagar juros, então as transferências e os juros somam cerca de 75% dos gastos totais do governo”, acrescentou o executivo, que considerou o nível muito elevado em relação à média dos países da América Latina, de 26% para transferências e de 10% para juros.
Se a situação continuar assim, alertou o executivo, o perfil da dívida brasileira vai piorar. Ele disse que, para a Moody’s, existe uma regra simples de “2+2” para que a dívida de um país se estabilize, na qual é preciso ter 2% de crescimento econômico ao mesmo tempo em que o superávit fiscal seja de 2% do PIB. “Vamos ter os 2% de crescimento, mas os outros 2% não vamos ter. Os problemas já existem, mas serão piores para as próximas administrações”, prevê.
O executivo alertou que, com a desaceleração da China, o crescimento do Brasil para os próximos anos será mais baixo do que no passado. Ele disse que, antes da crise, falava-se em expansão de 4% ao ano para o País. “Os próximos governos terão de se ajustar a crescimentos mais baixos”, disse.
É por causa dos problemas fiscais, explicou Leos, que o Brasil está com sua nota soberana de crédito em Ba2 e perspectiva negativa. “No primeiro semestre do ano que vem, logo depois do carnaval, em março, estaremos no Brasil. Vamos esperar para ver os números, para ver qual o cenário político, vamos pegar informações, vamos voltar e decidir”, disse. “Não fazemos rating do Brasil, fazemos do governo e o fiscal é ruim”, afirmou.
O lado positivo do Brasil, disse o executivo, são o nível de reservas internacionais e a capacidade de pagamento de dívida externa. Pelas suas contas, as reservas do País são suficientes para pagar duas vezes o endividamento em dólares.