A realização de rodeios, feiras, leilões e exposição de gado no Paraná está proibida até que se confirmem as suspeitas da ocorrência de febre aftosa no Estado. O anúncio foi feito ontem pelo secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Orlando Pessuti, que divulgou ainda duas novas resoluções que tratam da proibição da entrada de animais vindos do Mato Grosso do Sul e de quatro municípios paranaenses decretados como área de risco.
Pessuti afirmou que o Paraná vem fazendo um trabalho efetivo para rastrear a doença desde que o Mato Grosso do Sul confirmou os focos de febre aftosa, em 10 de outubro. A partir dessa data, verificou a entrada de animais vindos daquele estado – entre 10 de agosto e 10 de outubro -, confirmando que 43 propriedades receberam 1.994 bovinos, 5.320 suínos (que já foram abatidos) e 85 ovinos. Outra entrada de animais do Mato Grosso do Sul no Estado aconteceu na Euro Zebu, exposição realizada no início do mês em Londrina.
Segundo Pessuti, donos de treze propriedades paranaenses compraram gado nessa feira, assim como no leilão nacional Limousin, também em Londrina, onde 178 animais de outras 13 cidades do Paraná e 3 de São Paulo foram comercializados.
Diante desse fato, a Secretaria cancelou a realização de qualquer tipo de evento onde haja concentração de animais até que se confirmem as suspeitas da presença da aftosa. São realizados uma média de 20 eventos por final de semana em todo o Paraná. Também continuam retidos os mais de 600 animais que participaram da Expotoledo, que aconteceu no início do mês em Toledo, que contou com cinco animais vindos de Itaquiraí, um dos municípios sul-mato-grossense onde foi confirmado a presença de febre aftosa. ?Eles continuam retidos porque não expirou o período de incubação da doença, que é de 21 a 26 dias. Nenhum dos animais apresentou ainda sintomas da doença?, falou o secretário.
Além de 56 propriedades que estão sendo rastreadas – que somam um rebanho de 849 animais -, outras fazendas que ficam em um raio de 5 quilômetros também serão vistoriadas. Essas propriedades ficam nos municípios de Tamarana, Rio Branco do Ivaí, Grandes Rios, Jacarezinho, Cafelândia, Londrina, Maringá, Loanda, Amaporã, São Sebastião da Moreira, Mamborê, Jaquapitã, Marilândia do Sul, Mandaguaçu, Sertanópolis, Arapongas, Tomazina, Centenário do Sul e Guaraci.
Resolução
Como forma de ampliar as medidas para tentar barrar um possível foco da doença, a secretaria editou ontem a Resolução 091/05, que considera área de risco sanitário os municípios de Amaporã, Grandes Rios, Loanda e Maringá. Portanto, fica proibido o trânsito de todos os animais vivos, seus produtos e subprodutos, bem como materiais de multiplicação oriundos ou procedentes desses municípios. O abate para consumo só será liberado, dentro do território de cada município, mediante autorização expressa de embarque acompanhado pela Defesa Sanitária Animal.
Outra resolução, a 090/05, proíbe o ingresso de animais vivos, seus produtos, subprodutos e materiais de multiplicação vindos ou procedentes (em trânsito) do Estado do Mato Grosso do Sul. Porém, libera a entrada, desde que não seja das cidades Eldorado, Itaquiraí, Iguatemi, Japorã e Novo Mundo (onde a febre aftosa foi confirmada), de produtos e subprodutos como carne e miúdos de aves e suínos in natura, e carne suína desossada, desde que apresentem Serviço de Inspeção Federal. Também peles e couros em qualquer fase de processamento industrial, peixes, alevinos, carne bovina desossada e maturada, produtos e subprodutos de origem animal destinados para exportação.
Injusto
O secretário Orlando Pessuti considerou corretas as barreiras impostas ontem pelos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro aos produtos oriundos do Paraná (ler matéria abaixo). ?Acho que é justo eles reforçarem as barreiras enquanto existem as suspeitas. Nós fizemos o mesmo com Mato Grosso do Sul?, disse.
No entanto, Pessuti classificou como injusta e incoerente a barreira imposta por São Paulo, que proibiu também a entrada no estado de produtos industrializadas como leites em pó e condensado. ?Acho muito estranho eles adotarem essa medida em relação ao Paraná, enquanto abrem um corredor para o Mato Grosso do Sul para carne congelada para a exportação?, ponderou.
Sobre a declaração do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, de que existem 90% de chances da febre aftosa ser confirmada no Paraná, Pessuti disse que isso é prematuro e que não é possível fazer previsões. ?Eu não digo que existe 1% de chance, pois só depois do resultado das análises é que vamos ter uma resposta?, falou. O material que vai confirmar a presença ou não da doença no Estado foi para um laboratório em Belém, no Pará, e o resultado sairá até terça-feira.
Novo surto muda mapa da doença
Eldorado (AE) – Os surtos de aftosa no Mato Grosso do Sul e as suspeitas no Paraná devem mudar a geografia da doença no Brasil. A emergência sanitária neste momento tem efeitos de um golpe no Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa.
Antes destes dois eventos, 15 estados tinham a condição de ?zona livre de aftosa com vacinação?. Se olhada no mapa, é quase como se o programa tivesse traçado uma reta para dividir a nação. De Sergipe, passando por Bahia, cruzando por Tocantins, invadindo a reta que divide Mato Grosso do Pará e Amazonas, até Rondônia, a vacinação foi eficaz para controlar as sete cepas de vírus da aftosa.
Dessa linha imaginária para o Sul do País estava a pecuária exportadora, robusta, com reconhecimento internacional. A ameaça do Paraná, por exemplo, deve colocar o governo catarinense em alerta máximo. O estado é o único da federação a ter a condição de área livre de aftosa ?sem vacinação?, uma condição que Mato Grosso do Sul se preparava para ter.
Dias antes da descoberta do vírus na Fazenda Vezozzo, em Eldorado (MS), o governo do estado publicou um decreto em que começava a reduzir o número de vacinações do plantel de 25 milhões de cabeças de três para duas por ano. O reconhecimento de Santa Catarina como área livre sem vacinação é dado apenas pelo Brasil, mas é dos catarinenses esse único título nacional. Os focos suspeitos no Paraná, que recebeu e comercializou gado que circulou em Eldorado, são uma ameaça real.
O combate à aftosa é uma guerra. Os técnicos dizem que a razão está no alto poder de propagação do vírus. No caso do Mato Grosso do Sul, segundo o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), de Belém do Pará, o tipo de vírus foi o O, comum na América do Sul.
Em parte das regiões Norte e Nordeste, há a chamada zona tampão, cuja finalidade é proteger os rebanhos abaixo da linha das áreas onde o vírus ainda circula.
João Cavalléro, presidente da Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro), admite que as regras implacáveis do mercado internacional exigem do Brasil, líder mundial no mercado de carnes, ação exemplar. E é isso que a Iagro tenta fazer desde que surgiu o primeiro foco na Fazenda Vezozzo, onde foram abatidos 582 animais. A depuração do rebanho segue em ritmo mais lento que o previsto, em parte pela resistência dos pequenos produtores e pelas dúvidas sobre o pagamento de indenizações.
Rodrigues diz que a situação está sob controle
Brasília (AE) – Apesar de ser praticamente certo de que o Estado do Paraná também tenha focos de febre aftosa além do Mato Grosso do Sul, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou hoje ontem que o problema da doença não está fora de controle. Segundo ele, os prováveis novos focos no Paraná são ?um segmento do foco original? do Mato Grosso do Sul, onde apareceram os primeiros casos há cerca de duas semanas, e o Ministério da Agricultura e o governo do Paraná estão tomando todas as providências necessárias para evitar que a doença animal se espalhe. ?Está muito claro pelos dados fornecidos pelo governo do Paraná que trata-se de um segmento do foco do Mato Grosso do Sul?, disse Rodrigues, que se reuniu ontem com técnicos do ministério para discutir o problema, suas implicações e soluções.
De acordo com Rodrigues, o Ministério da Agricultura trabalha com a hipótese de que a doença tenha chegado ao Paraná durante uma exposição agropecuária em Londrina, em 24 de setembro. O ministro disse ter ficado ?surpreendido? quando recebeu ontem a notícia do aparecimento da doença no Paraná, segundo ele um dos Estados com ?melhor cobertura vacinal do País?. Ele reconhece a gravidade da situação, mas avalia que, do ponto de vista comercial, o quadro de embargos à carne brasileira, pelo menos por ora, muda pouco, uma vez que, dos 41 países que bloquearam a entrada da carne, 35 já haviam incluído o Paraná em sua restrição. Mas o novo risco é de que os países aumentem a lista de Estados proibidos de vender carne.