Leilões de reserva deveriam contratar pelo menos 1,9 GWm, diz ABEEólica

Para garantir o suprimento de energia em um cenário de retomada do crescimento é necessária a contratação de pelo menos 1,9 gigawatts médios (GWm) nos Leilões de Energia de Reserva (LER) de 2016, marcados para os dias 23 de setembro e 16 de dezembro. É o que indica estudo realizado pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).

O estudo leva em consideração que existe atualmente uma sobra contratual de 12,4 GWm, mas parte deste volume é somente “de papel” e que em uma possível retomada econômica há um risco de 38,1% de a demanda por energia superar a oferta, considerando um cenário com 15% a 20% de chance de ocorrer. No cenário mais provável (70%), com retomada econômica em linha com a expectativa de mercado, ainda haveria uma sobra real de 1,4 GWm.

Diante dessa avaliação, para a ABEEólica há a necessidade de contratação de energia em leilão de reserva deste ano, para início de suprimento em 2019, por questões de segurança energética. A presidente da entidade, Élbia Gannoum, salientou que embora seja um cenário menos provável, a falta de oferta pode ocorrer, especialmente se houver uma mais rápida reversão da capacidade ociosa das fábricas. “Neste caso, retomar o consumo de energia é muito rápido, não precisa fazer investimento em chão de fábrica, é simplesmente apertar um botão”, disse.

Conforme a entidade, houve um grande alarde sobre a sobra contratual, o que levou alguns analistas do setor a concluir que o governo não deveria fazer leilão para contratar energia de reserva neste ano. Estudo elaborado pela consultoria PSR indicou que a sobra real é de 3,4 GWm de energia. Élbia salientou, porém, que embora correto o estudo é balanço estático, que não levou em consideração a sensibilidade econômica.

Conforme esta análise, é necessário descontar 6,6 GWm de sobras por causa de revisão de critério de suprimento (atualização do custo de variável unitária – CVU) das termelétricas, restrições de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN), motorização das usinas hidrelétricas ao longo do ano e revisões de garantia física). Além disso, o chamado fator de fricção retira outros 2,4 GWm. Esse fator considera a revisão da produtividade das hidrelétricas tendo em vista a capacidade real de geração da turbina e o assoreamento dos reservatórios, e o fato de que a média de longo termo do nordeste não representa os dados observados nos últimos 20 anos para a região.

Élbia lembrou que na atual configuração o leilão de energia de reserva é um mecanismo para contratação de um “seguro de suprimento”, com custo mais baixo do que buscar uma alternativa de última hora para um eventual gargalo energético, que poderia levar à contratação de termelétricas. “O nosso seguro hoje é caro”, disse, lembrando que a hidrologia desfavorável de dois anos atrás levou ao acionamento de térmicas e ao tarifaço do ano passado, quando as contas de energia tiveram aumentos de 50%. “Na prática, esses leilões trocam energia cara por uma mais barata”, disse.

Cadeia produtiva

A executiva lembrou que além de garantir a segurança do sistema, o LER também tem um caráter de política energética e pode ser utilizado como instrumento para sustentar ou incentivar alguma fonte de energia. Também nesta linha, a ABEEólica defende a realização dos leilões neste ano.

A cadeia produtiva do setor eólico alega precisar da contratação de 2 GW de potência ao ano para se sustentar. “Se não, os fornecedores vão embora e o Brasil joga fora essa indústria que se estabeleceu há apenas seis anos e uma das poucas que segue crescendo”, disse Élbia. A entidade cita dado do Relatório Anual do Global Wind Energy Council segundo o qual o Brasil foi o quarto país que mais cresceu em energia eólica no mundo no ano passado. Além disso, aponta que a cadeia produtiva já realizou investimentos nos últimos seis anos que ultrapassam R$ 48 bilhões.

A ABEEólica levou ao governo os resultados de seu levantamento. E nesta quinta-feira, 28, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou portaria remarcando as datas de realização dos dois leilões de energia de reserva deste ano. O primeiro, inicialmente previsto para julho, ficará para 23 de setembro e o segundo, marcado para outubro, foi transferido para 16 de dezembro. Um contratará energia de fonte hidrelétrica (Pequenas Centrais Hidrelétricas e Centrais de Geração Hidrelétrica) e o outro será destinado a contratar energia das fontes solar fotovoltaica e eólica.

Questionada sobre sua expectativa de contratação de energia eólica, tendo em vista a necessidade de contratação de 2 GW de potência de projetos eólicos para atender a cadeia do setor e a estimativa de necessidade de 1,9 GW médios (cerca de 4 GW de potência) de energia de reserva no total, considerando todas as fontes, Élbia disse que “o ministro terá a capacidade de analisar em que grau que vai usar do instrumento (LER)” para as diversas fontes, do ponto de vista de política de estímulo.

Para ela, além de considerar a necessidade de novos projetos para atender ou estimular a formação de cadeias produtivas, o governo deveria também observar a eficiência no uso de linhas de transmissão e as características de cada fonte. Referindo-se à fonte solar, a executiva comentou que o fator de produtividade dos projetos é de 20%, que o setor ainda não tem cadeia produtiva nacional e que a fonte possui um viés mais de geração distribuída do que de usinas de grande porte.

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