São Paulo (AE) – O diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca, disse ontem que as mudanças propostas na lei agrícola dos Estados Unidos (Farm Bill) frustraram a expectativa de um desfecho positivo da Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC). ?Foi uma ação modesta, conservadora?, disse sobre a proposta americana de corte de subsídios aos agricultores. ?O nível de subsídios continua muito elevado e os efeitos distorcivos permanecem sobre os produtos agrícolas.?
Segundo Gianetti, também há um ceticismo em relação à vontade da União Européia de avançar nesse tema. É que a ministra de Comércio da França, Christine Lagarde, em recente visita ao Brasil, não escondeu a contrariedade com a posição do principal negociador da União Européia na Rodada Doha, Peter Mandelson, favorável a uma elevação do corte nas tarifas de importação de produtos agropecuários por parte dos países do bloco.
?Estamos preocupados com o recuo da França e o efeito disso sobre os demais países europeus. O trabalho do G-20 fica ameaçado pela ação da França?, disse Gianetti, sobre o grupo de países em desenvolvimento, liderado por Brasil e Índia, que tem se concentrado nas discussões do capítulo agrícola da Rodada Doha.
As questões agrícolas, que travam a rodada, foram o principal tema em discussão hoje pelo Conselho Superior de Comércio Exterior (Coscex) da Fiesp, que se reuniu em São Paulo e ouviu considerações do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone) sobre a Farm Bill. Gianetti disse que a indústria ?acompanha as negociações? sobre o tema, sem, ?necessariamente, influenciar a discussão?. Afirmou, no entanto, que a forte redução dos subsídios agrícolas ?pode ser uma utopia? e defendeu uma negociação equilibrada. Segundo ele, sendo 20% da Fiesp representada pela agroindústria, o setor rejeita a idéia de um resultado ?pífio? na rodada.
Gianetti afirmou, ainda, que um possível pré-acordo da Rodada Doha, até abril, é possível mas ?improvável?, principalmente se o Congresso americano não prorrogar o Trade Promotion Authority (TPA), autorização dada ao Executivo para fechar acordos comerciais. ?Sem a autorização, a posição dos Estados Unidos como negociador fica prejudicada.?