A autorização para o reajuste no salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) está, na prática, nas mãos do presidente Michel Temer. O ministro do Planejamento, Esteves Colnago, disse nesta terça-feira, 14, que a Constituição exige que propostas de aumento sejam autorizadas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), e o texto aprovado pelo Congresso Nacional para 2019 não traz essa permissão. Só Temer pode encaminhar uma proposta de mudança, e essa decisão ainda está em debate pelo governo.

continua após a publicidade

Mesmo que o Judiciário inclua dotação orçamentária para bancar o reajuste, Temer precisa enviar um projeto de lei para alterar a LDO e incluir a autorização expressa para novos aumentos. Essa proposta só pode ser enviada pelo Poder Executivo, ou seja, não é algo que esteja ao alcance dos parlamentares.

continua após a publicidade

O ministro reconheceu, porém, que não há martelo batido no governo sobre enviar ou não essa proposta – o que significaria abrir caminho para o aumento, que gera efeito em cascata em outros poderes e também nos Estados, mesmo em cenário de forte restrição fiscal.

continua após a publicidade

“A mudança na LDO para autorizar novos aumentos ainda está em discussão”, afirmou Colnago em entrevista coletiva na noite desta terça-feira (14).

O Congresso não pode se valer do projeto do Orçamento de 2019 para alterar a LDO do ano que vem. Ou seja, a iniciativa está nas mãos do presidente da República.

Como mostrou o Broadcast, o reajuste de 16,38% que os ministros do STF querem aprovar no próprio salário para 2019 pode gerar uma fatura extra de até R$ 4,1 bilhões a ser dividida entre os demais poderes da União e os Estados, segundo cálculo das consultorias de Orçamento da Câmara e do Senado. As consequências dessa medida preocupam a equipe econômica, já que boa parte do esforço fiscal recente se reverteria para salários, enquanto o espaço para investimentos e gastos com manutenção de serviços à população fica cada vez menor.

Sem o reajuste do STF, a folha de pagamento da União já chegará a R$ 328 bilhões no ano que vem. Enquanto isso, a margem para despesas de investimento e custeio cairá a R$ 90 bilhões, o que impõe severas restrições ao funcionamento dos órgãos. O efeito causado pelo aumento dos ministros tiraria “do pouco que ainda tem” para esses gastos, segundo uma fonte da área econômica. O Ministério da Educação já alertou para o risco de suspensão de bolsas de pesquisa científica em 2019.

O secretário de Orçamento do Ministério do Planejamento, George Soares, afirmou que o Executivo não enviará nenhuma proposta de novo reajuste para seus servidores, até porque não há esta autorização na LDO. “Outros poderes podem encaminhar novos reajustes, e o Congresso decide”, afirmou.