A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem pelo Banco Central (BC), jogou uma ducha de água fria nas expectativas de mercado sobre uma eventual aceleração da queda dos juros já neste mês. Ao afirmar que a inflação surpreendeu por ter sido mais alta do que o esperado, os diretores do BC deram uma indicação que se manterão conservadores.
A aposta em um corte mais ousado havia sido reforçada pela reação de integrantes do governo, do empresariado e do próprio mercado diante da retração de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. Os ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e do Planejamento, Paulo Bernardo, por exemplo, pediram cortes maiores nos juros.
No entanto, a ata, que foi escrita antes da divulgação desse dado negativo, afirma que a economia vai se recuperar no fim do ano, depois de um setembro e um outubro fracos. Ou seja, os diretores do Banco Central já esperavam um resultado negativo e não se impressionaram com o desempenho do PIB.
"O BC continua preocupado com a inflação corrente e postergou uma possível queda mais rápida dos juros para março", disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas. A decisão, segundo Freitas, terá efeitos negativos sobre o comportamento da atividade econômica no primeiro trimestre de 2006. "Com a ata, os empresários vão postergar os investimentos para o segundo trimestre", afirmou Thadeu de Freitas, que já foi diretor do BC.
O crescimento do PIB do próximo ano ficará, neste cenário, em cerca de 3,5%, segundo o economista da CNC e professor do Ibmec-Rio. "Na prática, teremos um crescimento de 3% porque cerca de 0,4% da expansão do PIB de 2005 passará para o próximo ano", disse.
O economista do Itaú Joel Bogdanski concordou com a avaliação do professor do Ibmec-Rio sobre a possibilidade de aceleração das reduções de juros já neste mês. "O BC sinalizou que continuará sendo conservador e manterá o ritmo de corte dos juros em apenas 0,50 ponto porcentual", disse.
O economista, no entanto, não descarta a hipótese de que os juros possam ser cortados em 0,75 ponto porcentual já em janeiro de 2006. "Como não haverá reunião do Copom em fevereiro, é possível que o BC tenha que tomar uma decisão mais perigosa em janeiro", disse.
A ata, na visão do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, minimizou a possibilidade de o PIB ter apresentado uma queda de 1,2% no terceiro trimestre do ano. Ele destacou que, no documento, o Copom revelou otimismo com a possibilidade de a atividade econômica se recuperar nos próximos meses. "No parágrafo 19, o Copom diz que a atividade econômica deverá se recuperar nos próximos meses e continuar em expansão, em ritmo condizente com as condições", destacou.
Para Agostini, o Copom só acelerará a velocidade de redução dos juros em janeiro se tiver informação suficiente sobre o comportamento do PIB no último trimestre do ano. "Se os integrantes do Copom perceberem que o PIB virá negativo de novo, acho que poderá haver uma queda de 0,75 ponto porcentual em janeiro", disse.
O economista do Itaú disse que os diretores do BC que participaram de reunião hoje com analistas de mercado em São Paulo se esforçaram em mostrar tranqüilidade com o resultado do PIB no terceiro trimestre. "Eles deixaram claro que o número do IBGE ainda pode ser revisto e que não poderão tomar uma decisão sobre juros com base num dado provisório", disse.
Bogdanski disse que muitos dos participantes do encontro realizado trimestralmente entraram na reunião convictos de que os juros iriam cair 0,75 ponto neste mês e saíram com a certeza de que o corte ficará mesmo em 0,50 ponto porcentual.