O Federal Reserve (Fed, o BC americano) elevou ontem sua taxa de juros para 4,5%, o 14.º aumento consecutivo da taxa -legado que o presidente do banco, Alan Greenspan, irá deixar a seu sucessor, Ben Bernanke, que assume hoje a presidência da entidade.
A economia americana registrou desaceleração no trimestre passado, mas os dados sobre inflação continuam sob o controle do Fed. O PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas por um país) teve crescimento anualizado de 1,1% no período – menor ritmo desde o mesmo período de 2002 e acentuada desaceleração em relação ao registrado no terceiro trimestre de 2005, 4,1%.
O resultado refletiu os efeitos da passagem dos furacões Katrina e Rita pelas regiões do país onde se concentra a produção das plataformas petrolíferas e das refinarias americanas – o estado do Texas e o golfo do México. Os furacões provocaram interrupções de produção, o que afetou o fornecimento e os preços dos combustíveis, pressionando a inflação e retraindo os gastos dos consumidores.
A desaceleração veio acompanhada de uma alta de 2,6% nos preços no país no trimestre passado. O índice é menor que o registrado no trimestre imediatamente anterior, quando a alta foi de 3,7%. O núcleo da inflação, que exclui os preços de alimentos e energia, teve, no entanto, aumento de 2,2%, contra 1,4% registrado no terceiro trimestre – o que mostra que a inflação está contaminando outros preços.
Bernanke
Ben Bernanke, que assume hoje a presidência do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), é um economista conceituado e experiente, dono de um passado sólido em matéria política e monetária. Com 51 anos de idade, o atual presidente do Conselho econômico da Casa Branca terá a difícil tarefa de substiuir Alan Greenspan, presidente da instituição há 18 anos.
Bernanke garantiu logo no anúncio de sua nomeação, em outubro do ano passado, que sua prioridade no cargo seria ?dar continuidade às políticas e estratégias estabelecidas por Greenspan?.
Antes de comandar a equipe dos conselheiros econômicos de Bush, Bernanke passou três anos no Banco Central americano, entre agosto de 2002 e junho de 2005, como membro do conselho dos governadores da entidade.
Foi neste cargo que ele conseguiu conquistar a confiança de Wall Street com um discurso, pronunciado em 2002, sobre a deflação e as ações que poderia conduzir o Fed para enfrentar tal eventualidade.
Como governador do Fed, Bernanke também ?promoveu uma maior transparência na comunicação da instância com o público e os mercados?, lembrou Bush, destacando a ?pertinência? dos discursos de Bernanke e ?a simplicidade de sua linguagem?.
Bernanke sempre considerou a independência do Fed um elemento essencial para a credibilidade de sua política, cujo eixo central é a manutenção da estabilidade dos preços. No entanto, o sucessor designado de Greenspan foi criticado por defender a instauração de uma meta para a inflação, uma idéia sempre recusada por seu antecessor. Os detratores dessa idéia apontam o risco de sacrificar o crescimento em benefício de um controle do aumento dos preços.
Bernanke é casado e pai de dois filhos.
Greenspan comandou a instituição por 18 anos e meio
Alan Greenspan, 79, deixa hoje o Federal Reserve (Fed) o banco central americano, instituição que comandou por 18 anos e meio. No dia 3 de agosto de 1987, Greenspan foi confirmado para o cargo pelo Senado americano. No dia 19 de outubro do mesmo ano, foi confrontado com uma queda de 22,6% no mercado de ações. Para efeito de comparação, a queda no dia 29 de outubro de 1929, quando os EUA entraram no período da Grande Depressão, que se estendeu pelos anos 30, foi de 11,7%.
Economistas e governos prendem a respiração, com a expectativa da troca, devido à incerteza sobre a atuação do presidente do banco para manter a estabilidade financeira americana – uma das principais atribuições da instituição.
Quando Paul Volcker (antecessor de Greenspan) foi alçado ao cargo em 1979, esperava-se dele que desse solução ao problema da inflação nos EUA. A taxa de juros do Fed no país com Volcker chegou a 19%. O remédio foi amargo, mas funcionou.
Greenspan recebe o crédito por ter mantido sob controle a política monetária americana (o que significa manter a estabilidade financeira e de preços) através das crises econômicas de 1987; nos anos 90, no México e na Ásia; em 2000, com o estouro da bolha da nova economia; e da recessão em 2001, na esteira dos ataques de 11 de Setembro.
As críticas, por sua vez, incidem sobre sua forma de combater as bolhas da economia: deixá-las estourarem para só então agir, desapertando a política monetária através de baixas de juros, para irrigar a economia e tentar evitar que a mesma entre em recessão.
Greenspan deve, agora que está fora do Fed, aceitar os diversos convites para realizar palestras – que não podia aceitar enquanto estava no banco -, e entrar para o WSB (sigla em inglês para Escritório de Oradores de Washington), que também conta com o ex-secretário de Estado dos EUA Colin Powell, o ex-presidente norte americano Bill Clinton e o ex-executivo-chefe do conglomerado General Electric, Jack Welch. Um livro sobre os anos à frente do Fed está em seus planos.
Caso decida aceitar os convites, no entanto, Greenspan -cujo salário na presidência do Fed era de US$ 180 mil por ano – pode vir a cobrar cerca de US$ 150 mil por cada participação em eventos nos EUA.