A redução de 24,5% ao ano para 22% na taxa Selic, por decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, estimulou nova onda de corte dos juros nas linhas de créditos dos bancos. A redução anunciada pelas instituições financeiras, contudo, é bastante discreta e traz pouco alívio, por enquanto, ao tomador de empréstimo. As taxas continuam bastante elevadas para quem se pendura em um crédito pessoal, usa o limite do cheque especial ou parcela a dívida no cartão de crédito.

As instituições financeiras passaram a captar dinheiro a 1,67% ao mês (22% ao ano), mas cobram do consumidor as seguintes taxas médias, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac): empréstimo pessoal das financeiras, 12,65% ao mês (317,61% ao ano); cartão de crédito, 10,48% ao mês (230,68% ao ano); cheque especial, 9 47% ao mês (196,17% ao ano); crédito direto ao consumidor nas lojas, 6,50% ao mês (112,91% ao ano); empréstimo pessoal dos bancos, 6,05% ao mês (104,36% ao ano).

Explicação

Miguel José Ribeiro de Oliveira, presidente da Anefac, explica que os juros permanecem elevados para o consumidor porque além do repasse do custo de captação do dinheiro, de 22% ao ano, as instituições financeiras embutem, em média, os seguintes porcentuais nas taxas: 29% de impostos; 13% de custos administrativos; 17% de riscos de inadimplência; e 40% de lucro.

Na análise de Marcos Silvestre, coordenador do Centro de Estudos de Finanças Pessoais e Negócios (Cefipe), um corte mais vigoroso nos juros cobrados do consumidor exige, além da queda mais acentuada da taxa básica, que as instituições financeiras tomem a iniciativa de agir sobre outros componentes do custo do dinheiro. Seria possível, diz ele, diminuir a margem de lucro e reduzir os riscos de inadimplência com mais rigor na hora de concessão do crédito.

Defenda-se

O presidente da Anefac também entende que o lucro dos bancos é exagerado e o consumidor brasileiro, ingênuo, passivo, imediatista, compra por impulso. Oliveira diz que é importante aprender a evitar o crediário, pesquisar bem o preço dos produtos, negociar descontos nos pagamentos à vista e, se precisar de compra parcelada, escolher prazos curtos, que têm os juros mais baixos do que os prazos mais elásticos.

Segundo Silvestre, do Cefipe, outra razão para a manutenção dos juros altos é que “o consumidor está referendando o comportamento relaxado dos bancos, em relação à inadimplência”. Ele sugere que os bons pagadores, que são os que acabam bancando a conta do inadimplente, se tornem ariscos, espertos e passem a se afastar do crédito.

As instituições financeiras também encontram espaço para a cobrança de juros elevados porque o consumidor não se preocupa em avaliar o total da conta, mas apenas a conveniência do valor baixo da prestação num prazo a perder de vista. O cliente deveria perceber que o banco que paga apenas algo em torno de 0 90% ao mês para que ele deixe o dinheiro na caderneta cobrará cerca de 9,47% ao mês se ele usar o limite do cheque especial. Só isso já deveria servir para refrear o impulso consumista.

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