As apostas num afrouxamento monetário ainda mais agressivo por parte do Banco Central impuseram nova rodada de queda nos juros futuros, que voltaram a renovar mínimas histórias de fechamento, mesmo com o real nesta quinta-feira mais pressionado. À exceção do cenário externo, que foi de maior apetite pelo risco após o acordo para o Brexit, o quadro nesta quinta-feira sugeria uma pausa no movimento de retirada de prêmios, mas nem a crise no PSL nem o saldo do Caged em setembro acima do esperado foram capazes de frear o recuo das taxas. Crescem as apostas tanto num aumento do ritmo de corte da Selic na reunião do Copom de outubro para 75 pontos-base, quanto a percepção de que a taxa pode cair a 4% ou abaixo no fim do ciclo.

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Num dia de liquidez ampla, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou em 4,856%, de 4,878% quinta no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 caiu de 4,517% para 4,47%. A taxa para janeiro de 2023 encerrou em 5,43%, de 5,50%. O DI para janeiro de 2025 já está perto de furar o nível de 6%, encerrando a 6,10%, de 6,211%.

Num cenário de inflação cadente, com IPCA abaixo das metas para 2019 e 2020, atividade em ritmo lento e perspectiva de recuo dos juros no exterior, os prêmios da curva têm sido rapidamente liquidados nas últimas sessões, com exceção dos primeiros dias nesta semana quando as taxas subiram refletindo uma modesta realização de lucros.

Após encerrarem a manhã com viés de baixa, as taxas passaram a cair com mais força à tarde. Segundo o gestor de renda fixa da Absolute Investimentos Mauricio Patini, havia grande expectativa pelo discurso do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante sua participação em evento em Washington, diante do crescimento das apostas de que há espaço para o Copom reduzir a Selic em 0,75 ponto este mês. “O mercado esperava alguma sinalização dele neste sentido, mas isso não ocorreu. Em sua fala, ele não chegou a abrir esta porta. Ainda assim, o mercado está querendo empurrar este call”, afirmou. Na apresentação para os eventos nos EUA, Campos Neto retomou ideias contidas nos documentos mais recentes do BC. Repetiu que “a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo” – ou seja, redução adicional da Selic hoje em 5,50% ao ano.

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Na curva a termo, a precificação de corte da Selic na reunião deste mês subiu de 53 pontos para 57 pontos, mostrando avanço nas apostas de uma queda de 75 pontos-base. Para o fim do ciclo de afrouxamento, já indicam taxa perto dos 4,20%.

O trader da Sicredi Asset Cassio Andrade Xavier confirma que o corte de 0,75 ponto “era cenário de cauda, mas agora entrou no radar”, mas vê o movimento de alívio de prêmios como exagerado. “O mercado está ficando eufórico, querendo embarcar numa profecia autorrealizável, e começa a entrar num terreno perigoso”, disse, lembrando que é preciso ter cuidado quando está todo mundo na mesma ponta.

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