Os juros futuros não passaram incólumes ao movimento de aversão ao risco que influenciou o mercado global nesta quinta-feira e as taxas fecharam em alta, mas bastante moderada em relação ao grau de perdas dos demais ativos domésticos. Novos dados apontando para desaceleração da economia global em meio a falas de dirigentes do Federal Reserve trouxeram estresse ao câmbio, com o real sendo destaque de perdas entre 34 moedas, o que acabou trazendo algum contágio para a curva. No entanto, a percepção de que o viés da piora da economia mundial é desinflacionário para o Brasil limitou o movimento. A exceção foram as taxas de curtíssimo prazo, que encerraram estáveis, refletindo a manutenção do cenário de queda da Selic nos próximos meses, reforçado pelo IPCA-15 de agosto.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 5,38%, de 5,358% quarta no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 6,341% para 6,37%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 6,88%, ante ajuste anterior a 6,851%. Na etapa estendida, porém, as taxas já estavam mais pressionadas, dado que o dólar renovou máximas no fim do dia, para encerrar em R$ 4,0780 (+1,19%).
Juliano Ferreira Neto, estrategista da BGC Liquidez, afirmou que o mercado esteve muito atrelado ao dólar, mas com pouca oscilação das taxas. “Fundamentalmente, o mercado de juros está muito atrelado a questões internas, mas faltam informações novas do lado político e, do lado da inflação, não há dúvidas de que o cenário é favorável a cortes da Selic. Do mundo político, não tem nada de novo e quem acaba fazendo preço é o externo”, disse.
No exterior, indicadores da economia americana – o PMI industrial teve o pior resultado em quase dez anos – e declarações de dirigentes das regionais do Federal Reserve trouxeram um mau agouro nesta véspera do tão esperado discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, sexta no Simpósio de Jackson Hole. “Temos vários dados sugerindo desaceleração mundial e um Fed ainda não disposto a aumentar o estímulo, ao menos não na velocidade que o mercado gostaria”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. Para ele, os dados dos EUA ainda vão dar sinais mais consistentes de fraqueza e o Fed deve começar a atuar.
Nesse cenário, os investidores se desfazem de ativos de risco, vendendo moedas de economias emergentes, mas, como afirma Ferreira Neto, da BGC, “o solavanco do dólar não pega na inflação”.
O quadro muito tranquilo para os preços foi endossado pelo IPCA-15 de agosto, de 0,08%, no piso das estimativas dos analistas. O dado teve impacto direto nos juros apenas no início dos negócios, embora, ao longo do dia, tenha ajudado a proteger as taxas de contratos que vencem até janeiro de 2020 da contaminação da pressão no câmbio. O índice ficou ligeiramente abaixo da taxa registrada em julho (0,09%) e em 12 meses encerrados em agosto acumulou alta de 3,22%, mais de 1 ponto abaixo da meta de inflação para este ano, que é de 4,25%.