Brasília – Apesar da trajetória de queda dos juros, o spread cobrado pelos bancos nos empréstimos aos seus clientes aumentou em fevereiro com relação a janeiro, de 27,4 para 27,6 pontos percentuais. Em apenas dois meses, o diferencial entre a taxa de captação de recursos paga pelos bancos e a usada nas operações de crédito aumentou 0,4 ponto percentual. A alta do spread, no entanto, não impediu que a taxa média de juros voltasse a cair depois da alta de janeiro e passasse de 39,9% para 39,7% ao ano, o menor nível desde o início da série histórica do Banco Central (BC), em junho de 2000.
Para o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, a elevação do spread foi provocada por uma mudança na composição da base de clientes dos bancos. ?Como as grandes empresas estão optando por levantar recursos no mercado de capitais, estamos vendo o crédito bancário ser mais demandado por empresas de pequeno porte?, disse.
Para evitar prejuízos com os novos e ainda desconhecidos clientes, os bancos, de acordo com o chefe do Depec, elevam os gastos com o trabalho de análise de risco das pequenas empresas. ?Isto acaba afetando o spread?, disse Altamir.
Em função da mudança, a elevação do spread em fevereiro ficou concentrada nos empréstimos às empresas. Nas operações de crédito para pessoas físicas, o diferencial das taxas de captação e aplicação recuou 0,4 ponto percentual e passou dos 40 pontos percentuais de janeiro para 39,6 pontos percentuais, menor nível desde o início da série estatística iniciada pelo BC em julho de 1994. Já o spread cobrado pelos bancos das empresas aumentou 0,2 ponto percentual e subiu de 13,6 para 13,8 pontos percentuais. Mesmo assim, os juros finais destas operações recuaram dos 26,2% de janeiro para 26% ao ano, menor patamar desde os 23,5% de outubro de 2002.
Crédito
Os dados do BC indicam também que a demanda por crédito continua alta. Em fevereiro, o volume total dos empréstimos bancários teve expansão de 1,1% e saltou dos R$ 739,330 bilhões de janeiro para R$ 747,360 bilhões. Com a alta, a participação do crédito no Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de 34,4% para 34,6% e atingiu seu maior nível desde os 34% de março de 1996.
Os percentuais, de acordo com o chefe do Depec, ainda foram calculados tendo como base o PIB antigo do IBGE. ?Só vamos fazer o ajuste para o novo PIB em abril?, disse.
A demanda por crédito subiu em todos os segmentos. No caso do cheque especial, por exemplo, segundo Altamir, a maior procura foi um dos fatores que impediu queda maior do spread das operações com pessoas físicas. ?Como estas operações têm uma taxa de juros muito elevada, elas acabam puxando o spread para cima?, comentou.
Mesmo com a maior demanda, em fevereiro, a taxa de juros do cheque especial caiu de 141,9% para 141,2% ao ano e atingiu seu menor patamar desde os 141,1% de outubro de 2004. ?Estamos caminhando para voltar ao piso histórico de 138,8% alcançado em dezembro de 1999?, disse o chefe do Depec. Em geral, o dinheiro do cheque especial é usado pelos clientes de banco no pagamento de dívidas contraídas nas férias de final de ano e de tributos cobrados todo início de ano.
Apesar da alta do spread em fevereiro, Altamir Lopes afirmou que os bancos têm repassado aos clientes as reduções de juros promovidas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) desde setembro de 2005. ?De setembro de 2005 até fevereiro, a Selic teve uma queda de 675 pontos. No mesmo período, os juros dos empréstimos apresentaram recuo de 848 pontos?, afirmou.
O spread teve, segundo o chefe do Depec, uma redução de 170 pontos percentuais no mesmo espaço de tempo. ?O spread poderia ter caído ainda mais se não fosse a mudança na base de clientes dos bancos?, disse Altamir. Segundo ele, a tendência de queda dos juros vem se mantendo em março.
Críticas ao Banco Central por manter juro básico elevado
São Paulo (AE) – O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, voltou a criticar a diretoria do Banco Central por manter os juros básicos elevados, mesmo com a inflação dos últimos onze meses posicionada abaixo da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
?Ou o Banco Central tem uma meta implícita e não respeita a decisão do CMN ou não se comunica bem, porque a ata não demonstra nenhum risco de pressão inflacionária para este e para o próximo ano?, declarou Mercadante, após participar do ?Debate de Líderes – o Brasil do Crescimento?, realizado ontem pela Casa Brasil na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
Segundo Mercadante, não será possível ao País atingir a meta de crescimento de 5% estabelecida pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) caso o câmbio e os juros não sejam ?competitivos?. ?Os juros permanecem muito altos e há espaço para realização de arbitragem em renda fixa que acaba por pressionar uma forte valorização do real?, argumentou.
Ele informou que a CAE tomou a decisão de convocar toda a diretoria do BC para prestar esclarecimentos a cada três meses e o próximo encontro será dias após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). ?Debater, aumentar a pressão e exigir a transparência do Banco Central é uma contribuição que os senadores podem dar para o aperfeiçoamento desse debate e levar o Banco Central a promover uma sintonia fina na redução dos juros?, justificou.
Mercadante recusou a avaliação de que o CMN poderia ser ampliado com integrantes da sociedade, como empresários e representantes dos trabalhadores, como forma de estabelecer novas metas de inflação, menos conservadoras. Na visão do senador, esse modelo já foi experimentado no formato de um ?conselhão? e não deu certo.
?Entendo que poderíamos ter uma ampliação dos integrantes do governo dentro do CMN. O formato atual é extremamente restrito e entendo que, por exemplo, o ministro do Desenvolvimento poderia participar desse conselho para mostrar preocupações como a produção interna, o consumo e a pauta de exportações?, sugeriu.