Juros altos travam expansão do crédito

O crédito no sistema financeiro brasileiro ensaia uma expansão sem precedentes, impulsionado pela retomada do crescimento econômico e por incentivos como a menor taxa média de juros para a pessoa física desde 1994. O estoque total de crédito concedido pelos bancos e financeiras a pessoas físicas e empresas chegou em junho a R$ 442,4 bilhões, 16% a mais que um ano atrás. E tudo indica uma expansão mais forte no segundo semestre, com o crescimento econômico incentivando uma oferta maior de crédito mais barato e vice-versa. A única nuvem a ameaçar o horizonte otimista do crédito é a possibilidade de aumento da taxa básica de juros, insinuada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, afirmam especialistas.

Enquanto a chance de aumento da Selic ainda é dúvida, quase semanalmente surgem novos produtos ou ofertas melhoradas na área de crédito para empresas e pessoas físicas, tanto por parte dos bancos públicos quanto dos privados. Entre os exemplos anunciados ou lançados estão uma linha de capital de giro no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), financiamento a juros prefixados para compra de máquinas e equipamentos, cartão de crédito com desconto em folha de pagamento e o financiamento em dez vezes sem juros pelas empresas de cartão. Na semana passada, o Itaú, último dos grandes bancos a ficar de fora do crédito popular, uniu-se ao Pão de Açúcar para montar uma financeira.

Na semana passada, o Santander Banespa anunciou um pacote de produtos de crédito para o Dia dos Pais, com desconto de 10% na taxa de juros para quem renovar suas linhas de crédito. O banco chegou ao fim do primeiro semestre com um total de recursos livres de R$ 19 bilhões, 31,8% maior que no mesmo período do ano passado. Em parte pelo crescimento do crédito consignado, a variação do volume de empréstimos para pessoas físicas ficou acima da média, em 36,4%.

Ao contrário do que ocorreu nos poucos momentos da última década em que o crédito nos bancos privados ensaiou uma retomada, como em 1996 ou 2000, atualmente os bancos públicos estão acompanhando a expansão, dizem especialistas. Mesmo com a Selic parada em 16% ao ano há quatro meses, os bancos públicos e até mesmo alguns privados, como o HSBC, vêm reduzindo sua taxa aos clientes.

Nos breves períodos de retomada na última década, “o setor privado comandava a retomada e o setor público ficava comedido”, diz Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Banco de Negócios. Logo ocorria um choque externo, combatido por um aumento na taxa básica de juros que interrompia a retomada. “Agora, o setor privado está com vontade de emprestar e o setor público, desesperado para oferecer crédito.”

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