Foto: Wilson Dias/Agência Brasil |
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Lula, na Suíça: países latinos têm que parar de chorar pela miséria. |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode não ter despertado tanto interesse em Davos como a do encontro anterior, há quatro anos (naquela oportunidade o salão onde ele fez o discurso ficou lotado e desta vez havia cadeiras vazias), mas ele arrancou alguns discursos da platéia, primeiro quando disse que os países latino-americanos ?precisam parar de viajar no mundo chorando nossas misérias e colocando a culpa nos outros?. No final, ao conclamar os países ricos a derrubarem suas barreiras comerciais, também foi aplaudido.
Lula defendeu a política monetária adotada no Brasil ao afirmar que as taxas de juros não podem ser reduzidas ?através de um passe de mágica?, mas gradualmente, através do crescimento da confiança dos investidores e da sociedade na economia do País.
Durante um seminário realizado no Fórum Econômico Mundial ontem pela manhã, ele foi questionado sobre as elevadas taxas de juros reais no País. ?É verdade que todos nós gostaríamos que os juros fossem mais baixos do que são?, disse o presidente. ?Não há mágica em economia, mas sim seriedade, e os juros vão continuar caindo na medida que formos obtendo mais confiança no Brasil.? Segundo Lula, fortes expansões econômicas ocorridas no passado no Brasil foram acompanhadas pela escalada inflacionária, e isso não vai acontecer em seu governo.
Lula observou que a taxa Selic vem sendo cortada há um ano pelo Banco Central. ?E não é a Selic que norteia os financiamentos dos empresários, mas sim os créditos externos, do BNDES, do microcrédito e outros instrumentos?, afirmou o presidente.
Previdência
Lula ainda rebateu as críticas à política fiscal de seu governo. ?Todo mundo fala com muita facilidade da política fiscal do Brasil?, disse o presidente ao responder a uma pergunta sobre o tema feita por um dos presentes na platéia. Segundo Lula, um dos pontos mais criticados é o déficit na Previdência Social, de cerca de R$ 40 bilhões.
Ele observou que, com a Constituição de 1988, o trabalhador rural e outras pessoas de baixa renda passaram a ser cobertos pela Previdência, gerando um gasto suplementar de cerca de R$ 40 bilhões. ?É um gasto muito importante para os pobres, não vejo nenhum problema nisso?, disse.
?Não descarto uma reforma na Previdência?, disse o presidente numa entrevista à imprensa após encerrar sua participação no Fórum Econômico Mundial. ?Mas quero que a coisa seja feita sem emoção, mas com a razão.?
Segundo Lula, as contribuições de empregados e empresas e os encargos da Previdência são equivalentes. ?Não há déficit aí, o déficit surge quando se incluiu na soma os trabalhadores rurais?, disse. ?Por isso eu sempre digo ao Guido (ministro da Fazenda, Guido Mantega), que isso é déficit do Tesouro, não da Previdência.?
Na primeira aparição de ontem, Lula fez um discurso de quase 20 minutos e respondeu a perguntas do diretor e fundador do fórum, Klaus Schwab, e do público. No discurso ele enumerou realizações do primeiro mandato, falou sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e usou uma porção de vezes a expressão ?nunca antes no Brasil? e outras equivalentes.
Defendeu a participação da iniciativa privada nas obras de infra-estrutura, mas prometeu modernizar os portos e investir noutros projetos com ou sem a colaboração das empresas. Ou vai ou racha, anunciou Lula. Prometeu também criar uma extensão universitária e uma escola técnica em cada ?cidade pólo?.
Horas depois, numa entrevista, o presidente disse que será preciso pensar numa política para as próximas gerações e que para isso será instalado um fórum especial em Brasília. Lula defendeu com insistência a integração cultural, física e econômica da América Latina, para promoção do crescimento e fortalecimento da região diante dos grandes interlocutores como os Estados Unidos e a União Européia. À tarde, disse que a proposta da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) morreu, porque não servia para os latino-americanos – opinião contestada pelo presidente mexicano, Rafael Calderón-Hinojosa.
Biodiesel pode ser alternativa a países em desenvolvimento
Davos (Suíça) – O governo brasileiro está disposto a transferir para os países pobres a tecnologia de produção de biodiesel, segundo afirmou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante discurso no Fórum Econômico Mundial, Lula sugeriu que os países ricos financiem tais projetos nos países em desenvolvimento como forma de diminuir a desigualdade no mundo.
?O biodiesel gera emprego, gera renda, gera desenvolvimento. E o nosso programa poderia ser um exemplo a ser financiado pelos países ricos aos países africanos e aos países da América Central?, disse Lula.
Um dos principais temas em discussão no Fórum Econômico Mundial 2007, que começou no dia 24 e termina amanhã, são as mudanças climáticas. Como são provocadas principalmente pela emissão de gases poluentes, o biodiesel aparece com uma das alternativas para reduzir esse processo.
Lula citou que os Estados Unidos, por exemplo, em vez de produzirem etanol do milho, deveriam financiar projetos de biodiesel nos países pobres, o que poderia ser inclusive mais barato.
O professor Mário Ferreira Presser, coordenador do Curso de Diplomacia Econômica da Universidade de Campinas (Unicamp), disse à Agência Brasil que ?isso tem vários atrativos: contempla os africanos, os europeus, o Brasil. Resolve a questão do clima, da pobreza e da liberação do mercado de açúcar e álcool?.
?A estratégia dos empresários brasileiros é mostrar que não se tornarão os grandes produtores de etanol sozinhos, que muitos outros países em desenvolvimento podem se beneficiar dessa abertura de mercado?, analisa.
?Há entusiasmo com isso inclusive no Banco Mundial. Uma vez que ninguém sabe bem o que fazer com a África, inserir a África como produtor de um produto com demanda certa seria um tremendo avanço e seria um grande gol para o Brasil?, acredita Mário Presser.
Empresários precisam conhecer oportunidades do PAC
Davos (Suíça) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a presença de mais de mil empresários em Davos, na Suíça, ontem, para falar do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado na segunda-feira (22). Ele convidou os empresários para que visitem o Brasil a partir de fevereiro para conhecer de perto as oportunidades de investimento oferecidas pelas novas medidas.
?Não vou aqui fazer merchandising para o Brasil. E não vou pedir pra vocês: ?Vem para o Brasil, investe no Brasil?. Isso só vai fazer quem quiser ganhar dinheiro e ter segurança no investimento?, disse. Lula pediu que os ministros também convidem empresários.
O presidente lembrou que a primeira aparição pública que fez em fóruns internacionais foi no Fórum Econômico e que foi nessa arena de debates que ganhou destaque a idéia do programa Fome Zero. Nessa visita a Davos, Lula falou de programas sociais como o Bolsa Família, o Luz para Todos, mencionou números da reforma agrária e citou políticas de microcrédito, entre outros programas.
Também falou sobre compromissos que assumiu no segundo mandato, como tentar resolver o problema do analfabetismo no Brasil. ?Este é o Brasil que estamos tentando mostrar ao mundo.?
Ele comentou sobre a política econômica e disse que o País aprendeu a combinar políticas de crescimento de exportações com crescimento do mercado interno, controle da inflação com crescimento econômico, superávit comercial com superávit na conta corrente, e disse ainda que o Brasil alcançou um nível de reservas que nunca imaginou.
?O Brasil vive um momento de auto-estima interna e de confiança externa, porque a nossa economia nunca esteve numa situação privilegiada como está hoje?, afirmou, apresentando o País como um lugar estável para investimentos.
Depois desse encontro, Lula teve reunião com cerca de 80 empresários, onde ele e os ministros Celso Amorim, de Relações Exteriores, e Guido Mantega, da Fazenda, fizeram um balanço sobre a política econômica. Mantega falou sobre o PAC, e Amorim renovou o apelo para retomada das negociações da Organização Mundial de Comércio (OMC) com a Rodada Doha.
Chávez, da Venezuela, não representa preocupação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, que seu homólogo venezuelano, Hugo Chávez, não representa uma ?perturbação? à América Latina. Além disso, Lula destacou que Chávez foi eleito três vezes consecutivas de forma democrática.
Já o presidente do México, Felipe Calderón, apelou à unidade da América Latina para conseguir a transformação da região e melhorar suas oportunidades de crescimento econômico.
?A América Latina precisa estar unida, não tem que perder mais tempo e impulsionar sua transformação?, disse Calderón quando o moderador do fórum o questionou se Hugo Chávez ?altera? o andamento do subcontinente.
?Não gosto de julgar as pessoas e, como presidente do México, independentemente da personalidade de Chávez, minha obrigação é estreitar os laços com o resto dos países latino-americanos?, assegurou.
