Mesmo com a expectativa de redução na taxa Selic, os juros cobrados pelos bancos subiram no mês passado, segundo levantamento do Banco Central. Entre julho e agosto, a taxa média praticada pelas instituições financeiras foi de 48,8% ao ano para 49,1%.

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A alta se concentrou nos empréstimos para empresas, cuja taxa passou de 33,0% ao ano para 33,2%. A elevação, apesar de pequena, contrasta com o cenário traçado pela maioria dos analistas, que é de queda dos juros.

Em agosto, a taxa Selic – que remunera operações feitas entre o BC e as instituições financeiras e que, por isso, serve de referência para os empréstimos bancários – estava em 19,75% ao ano, mas já se projetava um corte neste mês. Na semana passada, o BC promoveu uma redução de 0,25 ponto, fixando os juros básicos da economia em 19,50% ao ano.

O aumento no custo dos empréstimos está relacionado, de acordo com a pesquisa do BC, à elevação no chamado ?spread? bancário. ?Spread? é o nome dado à diferença entre os juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e a taxa cobrada nos financiamentos concedidos aos clientes.

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Os bancos usam esse ?spread? para compensar gastos com impostos, perdas com inadimplência e despesas administrativas. Também é daí que sai o lucro das instituições financeiras.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que o aumento nos ganhos dos bancos é, justamente, um dos motivos para a alta dos juros ocorrida no mês passado. ?Uma possibilidade é que tenha havido aumento na margem [de lucro]?, afirma.

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De acordo com o levantamento do BC, o ?spread? bancário atingiu 30,2 pontos percentuais no mês passado, o seu nível mais elevado desde maio de 2001. Em agosto de 2004, ele estava em 27,5.

Lopes nega que a alta dos juros e do ?spread? em algumas modalidades de crédito esteja relacionada a receio dos bancos em relação a possíveis efeitos da crise política sobre a economia. Ele diz também que ainda não é possível saber se o encarecimento do crédito é uma tendência a ser observada de agora em diante. ?O que a gente espera, evidentemente, é que as taxas recuem?, afirma.

Desconto em folha

Ao contrário do que aconteceu com as empresas, entre as pessoas físicas se observou um ligeiro recuo na taxa. Entre julho e agosto, os juros passaram de 64,5% ao ano para 64,4%.

Esse comportamento, afirma Lopes, é reflexo da expansão do chamado crédito consignado, empréstimos cujas prestações são descontadas diretamente no salário dos devedores. Como o risco de inadimplência é praticamente nulo, os juros costumam ser menores – na média, atrasos nos pagamentos atinge 7,6% dos empréstimos, segundo o BC.

Numa pesquisa feita pelo BC com 13 bancos que atuam nesse mercado, os juros médios praticados ficaram em 36,6% ao ano. Em compensação, nos empréstimos pessoais convencionais, sem desconto em folha de pagamento, a taxa média é superior a 90%.

Outro fator positivo em relação aos juros nos empréstimos a pessoas físicas foi a queda nas taxas cobradas no crediário. Em média, o financiamento para aquisição de bens – como móveis e eletrodomésticos – custava, no mês passado, 53,7% ao ano. No início do ano, essa taxa estava em 64,5%.