O juro médio cobrado nos financiamentos das pessoas físicas caiu para 42,7% ao ano em dezembro, o nível mais baixo desde 1994, segundo a série estatística do Banco Central (BC). Apesar disso, a perspectiva do mercado de crédito é de início de alta dos juros nos próximos meses, dizem analistas.

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Na média entre todas as operações realizadas em dezembro de 2009, incluindo pessoas físicas e empresas, o juro caiu de 34,9% para 34,3% ao ano, a segunda taxa mais baixa da série.

Mas números divulgados hoje pelo BC mostram que, diante da perspectiva de aumento do juro básico da economia, a taxa Selic, os bancos estão pagando cada vez mais caro para obter dinheiro no mercado.

O chamado custo de captação sobe ininterruptamente desde setembro. A alta deve se refletir em juros mais altos ao consumidor nos próximos meses. Algumas operações “menos seguras” pelos bancos – como o financiamento de loja e o crédito pessoal – já estão mais caras.

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O crédito nas lojas subiu 3 pontos porcentuais entre novembro e dezembro, para 54,8% ao ano. No crédito pessoal, o juro avançou 0,8 ponto, para 44,4% ao ano. Em dezembro, os bancos pagaram, na média, 10% ao ano para captar dinheiro junto aos investidores. Quatro meses antes, o custo era de 9,1%.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, admitiu que a alta tem relação direta com a trajetória dos juros no mercado futuro, segmento que tem sido pautado pela expectativa de alta da Selic. Para a maioria do mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve começar a elevar o juro em abril.

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“É quase consenso no mercado financeiro que a Selic começará a subir em breve. Isso afeta a taxa de captação dos bancos. As taxas ao consumidor irão parar de cair em breve e devem ter um aumento em seguida”, diz o professor de finanças do Insper São Paulo Ricardo José de Almeida.

O custo de captação sobe porque o investidor que tem dinheiro disponível só repassa para o banco se receber juro condizente com a previsão para a Selic. Para o mercado, a Selic deve subir dos atuais 8,75% ao ano para 11% até dezembro.

Altamir Lopes minimizou a trajetória da taxa de captação paga pelos bancos e a possível alta dos juros ao consumidor. Para ele, os números ainda mostram “um movimento pontual” e a expectativa oficial é que há chance de alguma redução adicional nas taxas ao consumidor.

“A redução da inadimplência abre espaço para que o juro caia. Não será no mesmo ritmo observado nos últimos meses porque já estamos em um piso”, disse.

O espaço para corte do juro, diz Altamir, vem do chamado spread bancário, que é a margem que o banco cobra nos empréstimos. Para ele, ainda há “gordura” para queimar no spread que subiu fortemente no ápice da crise.