Os ativos de crédito privado chamam a atenção dos fundos em meio a redução dos juros e a volatilidade do mercado acionário. Embora não haja estatísticas oficiais deste mercado, uma vez que faz parte da categoria renda fixa, essas carteiras são destaques da indústria em 2011, conforme observam os profissionais que atuam no setor. “A dinâmica deste ano todo foi por fundos de crédito privado”, confirma Paulo Corchaki, diretor de Gestão de Recursos da Itaú Asset Management.
A Bradesco lançou recentemente um novo fundo de crédito corporativo com carência de 90 dias para saques. “Esses fundos estão rendendo muito bem, pois temos mais liberdade de alocação com os créditos”, garante Reinaldo Le Grazie, diretor de renda fixa e multimercados da Bradesco Asset Management (Bram).
Segundo ele, a rentabilidade do novo fundo está em mais de 115% do CDI, enquanto no mercado o retorno é de cerca de 106% do CDI. “Temos instrumentos mais adequados, como a carência, e, portanto, conseguimos ter uma rentabilidade superior”, justifica.
O diretor da Bram explica que em geral os fundos de grandes bancos são D0 ou D1. Essas carteiras exigem um grande volume de caixa, pois quando o investidor solicita o resgate as cotas são transformadas em reais no mesmo dia e no dia seguinte, respectivamente. “Com 90 dias de carência, a gestora tem um longo tempo para vender os créditos e não precisa ter 40% de liquidez, que é padrão nos fundos de crédito”, esclarece Le Grazie.
Os ativos de crédito corporativo já estão ganhando mais espaço, inclusive, na composição de demais fundos, cuja participação era um tanto quanto tímida. As carteiras de multimercados, por exemplo, que antes usavam como lastro títulos públicos, já estão adotando o crédito privado como estratégia para melhorar a sua remuneração. “Não pretendemos lançar um novo fundo, mas à medida que houver uma redução de juros mais significativa, vamos aumentar a proporção das nossas carteiras em crédito privado para compensar a queda das taxas de títulos públicos”, confirma o superintendente nacional de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa, Marcelo de Jesus.
Falta de ativos
No entanto, grande parte dos demandadores de crédito ainda são os fundos de pensão e fundos dedicados a crédito privado, que trabalham com 80% alocados em ativos de crédito corporativo e às vezes até 100% em fundos exclusivos. A procura é tanta que já há gestoras com dificuldade de compor sua carteira de ativos. Isso tem feito com que algumas casas apostem em empresas, cujo risco nem sempre é saudável. “A demanda média tem sido duas vezes o book”, corrobora Bruno Horovitz, responsável pela área comercial da Icatu Vanguarda Administração de Recursos, asset do Grupo Icatu Seguros.
Ele conta que a gestora não tem tido problema para recompor suas carteiras à medida que os ativos estão vencendo, mesmo sendo um pouco exigente na seleção dos papéis. “Só trabalhamos com banco de primeira linha, basicamente com CDB (40%), debêntures (40%) e FDICs (20%). Temos por prerrogativa a maior diversificação de portfólio com concentração máxima de 20% por segmento. Nosso maior setor é elétrico, que já faz emissão há anos, tem fluxo de caixa bastante previsível e não sofre tanta volatilidade”.
A procura também está aquecida por parte dos investidores. A Itaú Asset Management, por exemplo, captou em apenas um dia R$ 700 milhões para um fundo de crédito corporativo. “O que está faltando é ativo. Em geral, temos de deixar os fundos fechados porque não temos ativos suficiente para a demanda”, destaca Corchaki, da Itaú.
Jesus, da Caixa, por sua vez, entende que é uma questão de taxa e exposição ao risco. “Talvez faltem papéis na característica que o gestor quer, ou seja, baixo risco com taxas elevadas”, diz ele, que acrescenta: “A indústria ainda tem letras financeiras de instituições pagando boas taxas e debêntures de empresas de primeira linha com taxas interessantes”, avalia ele, que conclui: “Ainda há espaço para locação em crédito”.