Juro cai, mas todos ainda reclamam

Nem a redução da taxa básica de juros para 12,50% pelo Copom na semana passada – o 15.º corte consecutivo feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central -, tampouco o fato de se tratar da menor taxa de juros nominal na história da economia brasileira nos últimos 30 anos têm animado os analistas financeiros. Para o economista Gilmar Lourenço, coordenador do curso de Economia da UniFae, o governo deveria ser mais audacioso no corte de juros. Nelson de Oliveira, do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (Ibef-PR), também defende queda mais acelerada da Selic.

?O governo usa diagnóstico e discurso equivocados para justificar a atual taxa de juros. No fundo, ele não quer controlar a inflação, mas preservar o lucro das instituições financeiras?, destacou Gilmar Lourenço, da UniFae. Os juros elevados, lembrou o economista, inibem investimentos na produção e atraem capital especulativo para o País, provocando deterioração da taxa de câmbio e prejudicando atividades exportadoras.

Selic de 6%

Segundo o economista, algumas avaliações do mercado apontam que há espaço para que a taxa Selic caia para até 6% ao ano, já incorporada a inflação brasileira de 3% ao ano, mais 2% a 3% de juros internacionais. ?Ninguém iria morrer se a Selic caísse para 6% ao ano. Pelo contrário: a economia ficaria muito mais sadia, com o dólar chegando a R$ 2,70, cotação mínima para que as empresas exportadoras atuem no ponto de equilíbrio?, destacou, lembrando que com o câmbio atual (o dólar valendo pouco mais de R$2,00), empresas brasileiras vêm mantendo as vendas externas apenas para não perder contratos internacionais.

?A origem de tudo isso é a intransigência do Banco Central em justificar para a sociedade que está preocupado com a inflação quando, no fundo, ele quer manter os polpudos lucros das instituições financeiras que atuam no Brasil?, salientou o economista. Exemplo disso, acrescentou, é o fato de o PIB brasileiro ter crescido 33% nos últimos 12 anos (já descontada a inflação) enquanto o lucro dos bancos aumentou 300% no mesmo período, também descontada a inflação. ?É um nó que existe e impede o crescimento econômico, impede maior geração de empregos.?

O vice-presidente de relações institucionais do Ibef-PR, Nelson de Oliveira, divide a mesma opinião. ?É a menor taxa, mas ainda está muito alta?, apontou. Defensor da produção industrial como alavanca para o crescimento do País, Oliveira afirmou que, neste patamar, a taxa de juros acaba favorecendo aplicações financeiras ao invés da produção. ?O Brasil pode estar, mais uma vez, perdendo a oportunidade de crescer?, arrematou.

Comparação da Selic nos governos FHC e Lula

Apesar das críticas sobre a alta taxa de juros, a Selic já foi bem maior no passado recente. No governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), por exemplo, a taxa real de juros ficou entre 13% e 16% – hoje ela é de menos de 10% – e a taxa nominal chegou a alcançar índice de 50% ao ano.

O cenário, porém, era outro. ?Naquele momento, a economia internacional estava vivendo crises financeiras e cambiais, como as ocorridas no México, na Rússia, Argentina e Turquia. Essas crises provocavam fugas de capitais de países emergentes, entre eles o Brasil. Daí os juros altos para impedir esta fuga. Mas de 2003 para cá (governo Lula), estas crises deixaram de existir?, destacou o economista Gilmar Lourenço, da UniFae. Além disso, o período foi marcado pelo combate à inflação com a criação do Plano Real, que estabilizou os preços.

Já no governo Lula, segundo o economista, a taxa real de juros está entre 9% e 12%. ?É muito elevada para as condições inflacionárias atuais?, comentou. Quando Lula assumiu, em janeiro de 2003, a Selic estava em 21% ao ano, mas chegou a atingir 26% ao ano. ?Hoje, as condições são outras. O risco-País está baixo, as reservas internacionais somam 120 bilhões de dólares, a inflação está em 3% ao ano, temos superávit comercial. O governo brasileiro deveria ser mais audacioso?, criticou.

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