A velocidade de depreciação do câmbio observada nas últimas semanas sugere um movimento além dos fundamentos econômicos no Brasil e pode demandar uma intervenção do Banco Central por meio do uso das reservas cambiais, avalia a economista-chefe do JPMorgan no Brasil, Cassiana Fernandes, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

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“O BC está certo (em pensar em usar as reservas), as reservas são um seguro, mas só devem ser usadas em caso de sinistro, e não para conter uma depreciação cambial baseada em fundamentos. No entanto, acredito que a velocidade de desvalorização do câmbio das últimas semanas sugere um movimento além dos fundamentos e a intervenção do Banco Central poderia ser necessária”, explica.

Apesar de aprovar o uso das reservas, Cassiana acredita que, por enquanto, os derivativos parecem ser o instrumento mais adequado, já que ainda “não houve um grande fluxo de saída de dólar”. As reservas do BC somam cerca de US$ 370 bilhões.

Atenta às discussões políticas sobre o pacote de medidas de austeridade anunciado pelo governo há duas semanas, a economista do banco norte-americano está pessimista quanto ao retorno da CPMF. “Não trabalhamos com a aprovação da CPMF neste ano. Mesmo com a reforma ministerial, eu acho muito difícil, por ser uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que precisa de 3/5 dos votos dos parlamentares”, disse. Cassiana afirmou que, se a CPMF for aprovada, certamente teria de rever suas projeções para o País.

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Por enquanto, o JPMorgan espera que a economia apresente recessão de 2,8% em 2015 e de 1% em 2016. A inflação ao consumidor deve atingir 8,8% neste ano e 6,3% no ano que vem. A Selic só deverá ser alterada no terceiro trimestre de 2016, com uma redução para 13,50%.

“Se os nossos cenários de crescimento e fiscal se provarem corretos nos próximos meses, acreditamos que o Brasil será novamente rebaixado pelas agências no ano que vem, pela Fitch ou pela Moody’s”, disse. Para o curto prazo, Cassiana diz que trabalha com a hipótese de a Fitch rebaixar a nota de risco soberano em breve, “mas não para perder o selo de bom pagador ainda”.

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Em relação ao Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), a economista aposta em uma alta das taxas de juros em dezembro (quando ocorre a próxima reunião do comitê de política monetária nos Estados Unidos), dando início ao ciclo de aperto da política monetária do país. “Mas o impacto no Brasil deve ser pequeno porque esse movimento está mais do que antecipado”, disse. A última reunião ocorreu em setembro e decidiu pela manutenção das taxas de juros em níveis próximos de zero.

Quanto ao cenário político, Cassiana considera improvável o impeachment da presidente Dilma Rousseff, embora reconheça que existe a possibilidade. “O impeachment não está no nosso cenário-base, o risco existe, mas não trabalhamos com ele”, afirmou.