Um relatório divulgado ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela que o número de jovens desempregados em todo o mundo aumentou em 14,8% nos últimos dez anos e mostra que pelo menos um quarto da juventude vive abaixo da linha da pobreza. As conclusões evidenciadas pelo estudo também são constatadas no Brasil, onde o desemprego entre os jovens dobrou na última década, alcançando 4,3 milhões de pessoas, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2005. No Paraná, tendência é semelhante, uma vez que a retomada do crescimento econômico tem levado empresariado a optar por mão-de-obra qualificada.
O estudo, que englobou jovens de 15 a 24 anos, mostra que, entre os anos de 1995 e 2005, o número de desempregados passou de 74 a 85 milhões; mesmo trabalhando, cerca de 300 milhões de pessoas nessa faixa etária ainda vivem com salário equivalente a menos de US$ 2 diários, ou seja, abaixo da linha da pobreza. Ainda de acordo com o relatório, aqueles que vivem em países em desenvolvimento agregam mais desvantagens, já que representam parcela maior da força de trabalho que nos países industrializados.
Segundo o diretor adjunto do escritório da OIT no Brasil, José Carlos Ferreira, a realidade nacional reflete os dados obtidos em âmbito mundial. ?O número de jovens desempregados em todo o país, se calculado de acordo com a População Economicamente Ativa (PEA), alcança os 20%, sendo que, contando apenas os desempregados acima de 24 anos, não chega-se a 6%. Isso mostra que a taxa de desemprego entre os jovens é três vezes maior que entre os adultos?, explica.
Um dos principais motivos para isso é o baixo nível de escolaridade, mais evidente quanto mais pobre a região. ?Outro fator é que falta qualificação técnica que responda às necessidades do mercado?, cita, complementando com o fator social – a baixa renda da maior parte das famílias brasileiras – cria a necessidade de inserção no mercado cada vez mais cedo. ?O grande desafio é como atenuar esse ciclo. Com uma taxa de crescimento econômico na casa dos 2%, não há como gerar emprego para todo mundo; ao mesmo tempo, não basta haver crescimento, mas este tem de ser qualificado, dando incentivo a setores que necessitem mais mão-de-obra e trabalhando-se a capacitação.? O estímulo ao empreendedorismo, aliado a condições adequadas para desenvolvê-lo, acredita o diretor, também é ferramenta importante para diminuir esses índices – inclusive os baixos salários, acarretados pelo grande número de empregos informais executados pelos jovens brasileiros.
Paraná
Para o delegado regional do Trabalho no Paraná, Geraldo Serathiuk, um dos motivos que leva o Paraná a se encaixar nos dados do estudo é que, de meados da década de 90 até os primeiros anos desta, privilegiou-se o ensino superior privado em detrimento da educação profissional e da aprendizagem juvenil. ?Ao mesmo tempo, houve pouca geração de emprego e, quando o empresariado voltou a contratar, deu preferência a quem já tinha melhor qualificação?, explica.
Segundo ele, hoje a educação profissional voltou a ser foco de investimento e, junto ao sistema S, as políticas de aprendizagem foram ampliadas – em 2002, por exemplo, o Senai no Paraná formou 700 aprendizes para a indústria; este ano, deve fechar com 5 mil. ?Outro problema é que os jovens têm entrado cada vez mais cedo no mercado e os mais velhos, com as baixas aposentadorias, continuam a trabalhar. Essa pressão exige que as políticas públicas se voltem à melhoria da renda familiar para retardar o ingresso e de forma que, quando o fizerem, estejam mais preparados.?