O ministro da Casa Civil, José Dirceu, cobrou do sistema financeiro a redução dos spreads bancários. Segundo ele, não há “hipótese” de o País crescer com as elevadas taxas de juros cobradas pelos bancos nas linhas de crédito ao consumidor. “O País deu ao sistema bancário tudo o que foi pedido. Os bancos precisaram se fundir, precisaram de empréstimos e o País autorizou tudo isso. Agora tem o SPB [Sistema Brasileiro de Compensação] e os bancos terão ainda a nova Lei de Falências, que oferecerá mais garantias”, disse Dirceu ontem durante seminário sobre desenvolvimento em São Paulo.
O ministro afirmou que o Brasil terá até meados de 2004 uma taxa real de juros de 8%, uma inflação de 5,5% e um risco de 400 a 500 pontos.
Segundo ele, para atingir esses indicadores positivos os bancos precisam dar a sua colaboração. “Vamos trazer o juro real a uma taxa compatível ao crescimento do País. Resta saber se os bancos vão reduzir seus spreads na mesma proporção”, afirmou o ministro.
Dirceu citou como exemplo de taxa abusiva ao consumidor as cobradas no cartão de crédito (de 7,5% a 10% ao mês), no crediário (7,5% ao mês) e no capital de giro (40% a 60%).
De acordo com ele, o sistema financeiro não está cumprindo a sua parte que é financiar a produção. “O Brasil tem um sistema financeiro que vive da tesouraria”, constatou.
Reforma agrária
O ministro José Dirceu disse também que falta dinheiro para o governo fazer a reforma agrária necessária ao País. Segundo ele, terra para a reforma existe. “O problema da reforma agrária não é falta de terra. Terra existe e os donos querem vendê-las ao governo. O problema é que custa caro”, disse o ministro.
Dirceu afirmou que o custo da reforma agrária afeta o cumprimento da meta do superávit primário.
Pelo sistema existente hoje, o país pode emitir R$ 1,5 bilhão em TDA (Títulos da Dívida Agrária) de 15 anos. O problema é que esses títulos têm de ser lançados pelo valor total no primeiro ano da emissão.
“Quando não fazemos o superávit, não é o FMI (Fundo Monetário Internaciona) que não aceita. São os credores (que não aceitam).”
Segundo Dirceu, os conflitos no campo precisam ser vistos como consequência de um problema maior, que é a desigualdade social, e não como causa da violência.