Foto: Cíciro Back |
Paulo Hansted: incremento do poder de compra. continua após a publicidade |
Diferentemente do que previam alguns dos críticos mais pessimistas em relação ao posicionamento do jornal impresso frente ao advento dos meios digitais, esta semana a Associação Mundial de Jornais anunciou que as vendas do produto em todo o mundo aumentaram em 2,3% somente no ano passado. E, nos últimos cinco anos, acumulam crescimento de 9,48%. Outra constatação é que o ingresso de anúncios publicitários também aumentou notadamente. Os motivos, apontam especialistas, vão desde a reformulação dos jornais em termos de conteúdo e formato até a percepção das empresas da necessidade de inserir-se nas mais diversas plataformas de mídia.
Os dados divulgados pela associação demonstram elevação nas vendas globais para uma média de 515 milhões de exemplares/dia. Evidenciam, ainda, uma realidade vivida em países da Europa e Ásia, principalmente, África, América do Sul e Oceania. O único continente onde não se percebe aumento na venda dos impressos é a América do Norte, o que não tira o posto dos Estados Unidos de quarto maior mercado mundial no setor, com 52,3 milhões de exemplares de jornais vendidos anualmente. Perde apenas para a China (98,7 mi), Índia (88,9 mi) e Japão (69,1 mi), e é seguido pela Alemanha (21,1 mi).
A publicidade não ficou atrás. Nos diários pagos, aumentou em 2006 cerca de 3,77% em relação ao ano anterior e 15,77% nos últimos cinco anos. Mesmo assim, constata-se que os jornais de distribuição gratuita foram também fortes impulsionadores dos índices positivos: se separados dos pagos na contagem e comparados a eles, cresceram mais no ano passado, em média 4,6% contra 3,77%.
O estudo demonstrou ainda os mercados mais promissores. O japonês segue sendo o maior em termos de compradores de jornais, com mais de 630 mil vendas diárias. Depois vem a Noruega, com mais de 601 mil exemplares vendidos diariamente; Colômbia, com 587 mil; Finlândia, com quase 515 mil e Suécia, com 466 mil.
Os belgas são os que passam mais tempo lendo jornais (54 minutos por dia), seguidos dos chineses, finlandeses e brasileiros, com 48 minutos diários.
Brasil
Na América Latina, destaque para o Brasil. Nossos jornais, segundo a associação, cresceram 6,5% em vendas em 2006 e 3,7% nos últimos cinco anos. A International Newspaper Marketing Association (Inma) contabiliza ainda que somente os 50 maiores jornais brasileiros aumentaram sua circulação em 7,1% ano passado. ?Isso se deve a fatores como o incremento do poder de compra, com mais de 8 milhões de pessoas alcançando a classe média, e a segmentação do setor, com o advento dos jornais populares, que têm linguagem e perfil adequado a seu público?, destaca o vice-presidente no Brasil da Inma, Paulo Hansted. O que significa que uma fatia da população que antes não lia jornal, as classes B1 e C, passa a fazer parte deste público.
Mudança de formato motiva crescimento
Outro motivo do aumento nas vendas, e que segue tendência mundial, é a mudança de formato dos principais impressos. Na Europa, atualmente, pelo menos 75% dos jornais diários têm formato diferente do tradicional Standard. ?Esse fenômeno foi desencadeado pela falta de tempo que o leitor tem para ler o jornal e pelos locais onde ele faz isso, geralmente em trânsito, no avião, no ônibus ou carro, indo para o trabalho?, explica Rogério Florenzano, diretor comercial dos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná. Com isso, os textos também tiveram de se adequar, mais curtos e dinâmicos.
No Paraná, essa tendência pôde ser evidenciada nos jornais Tribuna do Paraná, popular, que alcançou 10% de aumento na tiragem entre 2006 e 2007, após mudar para o formato Berliner e O Estado do Paraná, alterado recentemente, para o qual há expectativa semelhante em maior espaço de tempo.
Quando o assunto é a perspectiva futura, o diretor do Comitê Mercado Leitor da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Luiz Alberto Albuquerque, tem previsões um pouco pessimistas frente ao mundo digital. ?O risco maior fica por conta das novas gerações, que buscam as informações prioritariamente na internet, o que deve impactar para os impressos no médio e longo prazos.?
Paulo Hansted, da Inma, não compartilha da mesma opinião. ?Jornal e internet são diferentes plataformas e os principais veículos do mundo estão se posicionando em todas elas. Não haverá mais meios em ambientes unânimes. A tendência é que o indivíduo migre entre as diversas plataformas (jornal, internet, TV, rádio ou palmtops) ao longo do dia, dependendo do ambiente onde estiver inserido e do tipo de informação que deseja no momento.?