O 4.º Encontro da Jornada de Agroecologia, que acontece em Cascavel, Oeste do Paraná, já reúne mais de 5.500 participantes, entre agricultores familiares, camponeses, técnicos e acadêmicos. A expectativa das cerca de 20 entidades promotoras do evento é de que a meta de 6 mil participantes seja facilmente ultrapassada com a chegada de novas caravanas durante este segundo dia. A jornada se encerra amanhã, em ato público que contará com a presença do governador Roberto Requião e com representantes do governo federal.
Já estão em Cascavel caravanas vindas do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além das delegações estrangeiras: da Itália, do Paraguai, da Argentina e do México. Entre as organizações internacionais presentes estão a Via Campesina, o Greenpeace e a WWF Brasil. Acadêmicos de diversas universidades brasileiras também participam da organização do evento e de oficinas temáticas de agroecologia, ligadas aos cursos de Agronomia, Zootecnia, Botânica e Zoologia.
No primeiro dia, uma grande caminhada dos participantes da jornada ganhou as ruas de Cascavel por cerca dos cinco quilômetros que separam a praça da Igreja Matriz do Centro de Convenções e Eventos da cidade. Ao longo da marcha, os agricultores entregaram cerca de dez toneladas de frutas cítricas orgânicas (tangerinas e laranjas) à população de Cascavel.
O segundo dia começou com a palestra de Sílvia Ribeiro, ambientalista mexicana ligada aos direitos de agricultores e índios no seu país e com o depoimento emocionante de Wilfred Mendonza, representante dos povos indígenas zapatecas do México.
Graves diferenças
O pesquisador e coordenador da AOPA ? Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia ?, Paulo Mayer, denunciou, ontem, números de pesquisa do PNUD que retratam as diferenças consideráveis entre os modelos tecnológicos para a agricultura brasileira: um é o do agronegócio e o outro o da agricultura familiar. Segundo Mayer, as propriedades com mais de 200 hectares representam apenas 5,3% dos estabelecimentos rurais existentes, ocupam mais de 70% da área agrícola do País e utilizam apenas 12,7% da mão-de-obra ocupada no setor. No extremo oposto desse quadro está o modelo de desenvolvimento pautado na agricultura familiar, que abriga 93,8% dos estabelecimentos rurais, ocupa 29% de área e, nesse espaço, emprega 87,3% de toda a mão-de-obra dedicada à agricultura. Ainda, a agricultura familiar é responsável por 67% da produção de feijão, 59% de suínos, 52% da produção de leite e 49% do milho.
A cada ano, 90 mil estabelecimentos agrícolas deixam de existir no Brasil e, desses, estima-se que 97% sejam familiares.
Outros dados apresentados por Mayer, que chamaram a atenção dos participantes do Encontro da Jornada de Agroecologia, dizem respeito à erosão provocada pela produção extensiva de soja no País. Segundo ele, para cada quilo de soja produzido no País, perde-se 20 toneladas de solo por hectare/ano. O dado é obtido por medição em lavouras de vários tipos (inclinações) com coletores colocados nas margens dos rios (caixas d?água). A terra que fica depositada no fundo desses coletores indica a erosão do solo naquele local.
Paulo Mayer lembra que na Bacia do Prata, na Argentina ? formado pela junção dos rios Uruguai e Paraná ?, existe um banco de solo sobre o mar com 250 km de raio. ?A agroecologia é a base científica da produção sustentável de alimentos, ou seja, do modo ambiental, econômico, social e culturalmente correto de produção. Essa base ecológica nos apresenta a capacidade de reprodução da vida, do ambiente e da natureza, que vem sendo desmontada pelo modelo tecnológico do agronegócio e da concentração de renda?, diz o coordenador da AOPA.
