Mesmo frente às enormes incertezas que cercam o segmento de infraestrutura e seu futuro econômico, o Brasil continua no topo das preferências dos investidores japoneses no portfólio global, especialmente em projetos relacionados a estradas de ferro e portos. John Jeffrey, co-líder do Japanese Services Group Global da Deloitte, considera, no entanto, que a atual crise tem potencial de postergar a conclusão de algumas aquisições este ano.
“Os empresários japoneses estão mais cautelosos, (os eventos macroeconômicos e o comprometimento de vários setores pelo escândalo da Petrobras) não deve fazê-los desistir de investimentos, mas pode atrasar a conclusão de operações este ano”, afirmou Jeffrey em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, durante sua visita ao Brasil.
O executivo observa que há também um outro lado nessa questão, relacionado às oportunidades que surgem em condições adversas, o que dificulta uma avaliação sobre se a crise brasileira irá pesar negativamente nos números dos investimentos japoneses. “Não se pode prever como se comportarão os números sobre investimentos diretos do Japão no Brasil em 2015”, diz ele.
Em 2014, o investimento direto do Japão no Brasil dobrou em relação ao ano anterior, para US$ 3,780 bilhões. Os números, entretanto, oscilam de um ano para o outro, mas Jeffrey observa que o fato é que desde o ano de 2008 vem ocupando a casa dos bilhões.
Ele acrescenta que o Japão olha para o Brasil no longo prazo, sobretudo porque está fortemente engajado na disputa global por recursos naturais, na qual a China é o principal competidor. “Os japoneses estão tentando aumentar significativamente a habilidade de garantir recursos naturais, mas fazem isso de modo diferente dos chineses, de modo mais colaborativo”, observou. Nesse sentido, acrescenta o executivo, enquanto a contribuição do Japão estava voltada ao setor agrícola, “o país agora quer dar suporte à logística e à distribuição dos produtos agrícolas, para baratear esses custos que impactam na importação dos produtos agrícolas”.
Além disso, Jeffrey lembra que o Japão enfrenta outros dois grandes problemas que dificultam a expansão das empresas na ilha: a população excessivamente idosa e a falta de energia. “O tsunami de 2011 eliminou um terço da capacidade geradora de energia elétrica do país e as fábricas têm de partilhar essa energia para operarem. É impossível construir uma fábrica no Japão e a única maneira de se fazer isso é fora do país”, diz.
“As empresas japonesas estão no jogo e tentarão fechar negócios se estiverem confortáveis com as métricas locais. Eles não devem ficar esperando (a crise acabar)”, previu. “Há outros países, como a Venezuela e Argentina, que estão fora de discussão, mas o Brasil definitivamente não está nessa direção”, acrescentou.
De acordo com Jeffrey, o Brasil é disparado o principal destino dos investimentos japoneses na América Latina, embora países como o México, Chile, Colômbia e Peru tenham atraído recursos, em menor proporção, nos últimos anos.
Jeffrey citou ainda que o Japão tem grande experiência em tecnologia de aproveitamento de água, um tema que tem ganhado importância no Brasil diante da maior seca dos últimos 80 anos que passa o País. “Energia limpa é um setor no qual as companhias japonesas têm vantagem tecnológica e eficiência. Penso que o Brasil está interessado em aprender com o Japão”, afirmou.