O uso racional da água e da energia. Esse é o principal objetivo do programa de irrigação noturna que começa a ganhar a adesão de produtores do Paraná. Quem adota a prática de irrigar as lavouras durante a madrugada pode ter uma economia de até 70% nos custos da energia consumida no período. Além disso, alguns produtores estão conseguindo obter melhor produtividade das culturas e ampliando a produção.

O engenheiro agrônomo e produtor de Centenário do Sul, Oswaldo Pitol adotou a prática da irrigação há dois anos, já que precisava encontrar uma fórmula para melhorar a qualidade da terra. Segundo ele, no verão chove muito na região, porém existem períodos de estiagem entre os meses de março a maio, o que provoca uma baixa na produtividade. Uma fórmula para equacionar essa situação foi instalar um equipamento de irrigação.

Hoje Pitol consegue tirar uma safra a mais – em dois anos faz cinco safras -, inclusive cultivando soja no inverno. “Eu tiro uma semente com qualidade e índice de germinação de 90%, que pode ser vendida pelo dobro do valor”, afirmou. Com a adoção da irrigação noturna paga apenas 20% do valor que pagaria pela irrigação diurna. Para a instalação dos equipamentos que irrigam uma área de 330 alqueires, Pitol investiu cerca de R$ 4 milhões, e espera ter o retorno em 2,5 anos.

Já o produtor de Cambé, Ronaldo Sonomura está apostando em uma economia de 30% na produção em uma área de 50 hectares coberta com hortaliças. “Essa economia eu penso em reinvestir na propriedade”, falou. Sonomura começou a utilizar a irrigação noturna há um mês, e diz que foi atraído pela redução da tarifa de energia no período, que no caso dele, chegará a 60%. Mesmo tendo uma despesa maior com a mão-de-obra, garante que o investimento vale a pena.

E a promessa de economia foi o principal atrativo que fez o produtor de São José dos Pinhais Célio Rendoki investir na irrigação noturna. Para colocar em funcionamento os equipamentos, ele aguarda apenas a entrega de um relógio do medidor de energia. Rendoki calculou que se utilizar a irrigação por duas horas diárias, irá pagar R$ 4,50 pela energia. “Ainda não sei quanto isso vai representar no final do mês, e mesmo que a economia chegue a R$ 50 já posso investir em sementes e adubo para ampliar a produção”, falou.

Programa

O programa de irrigação noturna é desenvolvido em parceria entre as secretarias estaduais de Agricultura, Meio Ambiente e Educação, além da Copel (Companhia Paranaense de Energia), universidades e cooperativas. O coordenador do programa e engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural José Tarciso Fialho explica que a idéia á produzir mais com o mínimo de degradação do meio ambiente.

Entre as vantagens oferecidas pelo programa estão o custo mais barato da energia – em até 70% – para a utilização no período das 21h30 às 6h. “É uma racionalização do uso da rede que já está instalada, e fica ociosa nesse período”, falou. Em relação à água, Fialho comenta que a utilização é menor durante a noite porque não ocorre a evaporação, e as plantas têm melhor absorção do líquido. Ele comenta que também há uma redução no emprego de agrotóxicos, já que as culturas têm melhor desenvolvimento. Outra vantagem é a economia de energia fóssil, pois os produtores substituem o funcionamento do motor dos equipamentos à gasolina e diesel por eletricidade.

Os pequenos produtores com áreas que não ultrapassam 50 hectares também recebem outras vantagens para a adesão ao programa. Entre elas estão a gratuidade de até 200 metros de ponto de captação da rede de distribuição e financiamento em até 24 vezes do medidor – que custa em média R$ 600 – direto na fatura de energia. Também existem vantagens para a complementação de fases, e através do Pronaf, o equipamento pode ser financiado em até oito anos com juros de 4% ao ano. Em todos os casos, o produtores recebem o apoio dos técnicos da Emater.

De acordo com José Tarciso Fialho, além da assistência técnica, o programa também prevê a capacitação dos agricultores. Para isso, estão sendo criados centros tecnológicos de irrigação nos 15 colégios agrícolas do Estado. “Esses centros terão a função pedagógica, tanto para os alunos como para os técnicos e agricultores”, explicou. Hoje cerca de 500 agricultores já se inscreveram para participar do programa, que pretende atingir até 2006, 30 mil produtores.

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