IR e 13º adiantados salvam os que estão endividados

Rio (ABr) – A rede bancária oficial vem registrando uma forte demanda dos consumidores por empréstimos com base na antecipação do pagamento da restituição do Imposto de Renda ou do 13.º salário. No Banco do Brasil, no primeiro semestre, apenas com a linha de crédito para antecipar o pagamento do 13.º foram contratadas 60 mil operações, no total de R$ 35 milhões. Para a antecipação da restituição do IR, foram 150 mil operações, que somaram R$ 200 milhões. Na Caixa Econômica Federal a informação é de que o valor médio dos empréstimos aumentou de R$ 2,2 mil para R$ 3,5 mil.

Para o diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade de Maringá, do Paraná, doutor em economia de empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e integrante do Conselho Federal de Economia, Neio Lúcio Peres Gualda, embora com juros menores (2,5% a 3,4%), esse tipo de empréstimo deve ser feito apenas em determinadas situações. ?Se a pessoa tem dívidas no cartão de crédito ou no cheque especial compensa, porque essas duas modalidades cobram juros muito elevados?, aconselhou.

Segundo ele, os juros no cheque especial estão na faixa de 160% ao ano e no cartão de crédito, ultrapassam os 200%. O professor desaconselhou o uso desse tipo de crédito para antecipar uma compra. Nesse caso, ele afirma que é melhor aguardar a restituição completa, porque os juros de 2,5% a 3,4% ao mês também são pesados.

Gualda considera a antecipação uma modalidade interessante para os bancos e financeiras, porque não há risco nas contratações dos empréstimos. Ele destacou que as instituições têm a garantia da restituição e fazem a consignação para a antecipação do 13.º. ?O que forma a taxa de juros é a liquidez. Se o financiamento é de um prazo maior, a taxa também é maior e, na possibilidade de inadimplência, os bancos e financeiras já computam isso nas taxas de juros. Todo mundo paga pela inadimplência de alguns. Como o empréstimo será consignado ou já têm a garantia da restituição, então, paraticamente não há risco de inadimplência, o que faz com que a taxa seja menor?, explicou.

Para o especialista, o motivo da busca por esse tipo de empréstimo é o alto grau de endividamento do brasileiro. O professor afirmou que a classe média está sufocada pelo cheque especial e o cartão de crédito. Ele afirmou que embora a inflação venha registrando níveis menores, há gastos da classe média que, ao contrário, só fizeram aumentar, como os planos de saúde e mensalidades escolares. Os dois juntos provocam desequilíbrios nos orçamentos familiares. Junto ao pouco crescimento da renda média, ele acredita que estes sejam os fatores do endividamento.

?É uma situação comum hoje fazer uso do cheque especial ou não poder quitar a fatura integral do cartão de crédito. Não acredito que seja para antecipar uma compra não, mas para quitar dívidas. Esse aumento de demanda com certeza está associado ao endividamento que a classe média vive neste momento da economia brasileira?, analisou.

Gualda disse que o endividamento também atinge a faixas de renda mais baixas. ?Hoje o mercado induz e as pessoas acabam consumindo além das suas possibilidades. Cria-se uma situação muito dificil. Fazer um bom planejamento do orçamento familiar é a melhor receita para se manter equilibrado.?

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