Comprometendo o orçamento

Ir até a padaria está virando um hábito “caro”

O hábito de comprar pão na padaria pode comprometer o orçamento, sobretudo de quem não costuma anotar os gastos. Pelos dados do Sindicato da Indústria da Panificação do Paraná (Sipcep) apenas 10% dos consumidores conseguem sair do estabelecimento carregando apenas o pacote com os inocentes pãezinhos. Os 90% restantes sempre carregam algo a mais, incluindo frios, leite, bolos e salgados. E boa parte desse grupo nem nota que gastou em outros itens.

O Paraná Online fez o teste em uma padaria do centro de Curitiba, onde os clientes já formavam fila em busca do pão de cada dia e a grande maioria trazia nas mãos muito além do pão. Mesmo a aposentada Maria Ribeiro, 75 anos, que foi focada em comprar apenas os sete pães de água do dia, levou um oitavo integral e saiu do local sem saber quanto custou. “Se eu soubesse que iriam me perguntar teria prestado mais atenção”, explicou.

Ela costuma ir em dias alternados à padaria, mas reconhece que não anota quanto isso representa ao final de cada mês. No local, o quilo do pão de água estava R$ 9,29 e muitos da fila reconheciam que apesar de não ser o local mais barato, a qualidade do produtos motivava o retorno. “Moro no bairro Solitude, onde o pão é mais barato, mas sempre que estamos no centro compramos aqui por ser mais gostoso”, explicou a camareira Elisabete Maria Meira, 57 anos.

E essa diferença deve sofrer um aumento até o final do ano, já que das três variáveis que impactam diretamente no custo do produto – trigo, energia elétrica e mão-de-obra – as duas últimas somaram mais de 30% de reajuste, que ainda não foi repassado para o consumidor. “Estávamos esperando o acerto do dissídio dos trabalhadores para refazer os cálculos, mas nenhum estabelecimento repassará integralmente a elevação dos custos porque o movimento caiu. O cliente que costumava ir todos os dias à padaria, hoje vai de três a quatro vezes na semana por conta do momento econômico”, aponta o presidente da entidade, Vilson Felipe Borgmann.

Mas Borgmann admite que, até mesmo em dias de retração, a mudança de hábitos da sociedade mantém o setor aquecido. “Bons padeiros são disputados e conseguem um salário mensal próximo a R$ 4 mil. Além disso, a produção própria das padarias é o que fideliza a clientela e garante a sobrevivência do negócio, mesmo em períodos mais críticos. Até porque a maioria prefere investir o tempo necessário para fazer um pão em casa ou um salgado em outras atividades”, avalia.

Economia com qualidade

Essa percepção do custo-benefício de comprar pronto da padaria muda quando, literalmente, as pessoas começam a colocar a mão da massa. O padeiro, confeiteiro, gastrônomo e técnico de ensino do Senai, Jonas Adelino Neto, explica que com exceção do pão francês e de água, todos os demais itens da padaria podem ser feitos na cozinha doméstica, com uma enorme economia e conferindo mais qualidade nutricional aos alimentos. “No caso dos pães de água ou francês, há um maquinário específico para garantir a crocância”, explica.

A constatação também é confirmada pela instrutora do curso profissionalizante de Confeitaria Salgada do Senac, Neusa Aparecida Franco. “Quem começa a fazer em casa, logo descobre que além de uma grande economia, esse caminho pode se tornar uma fonte de renda, já que o cheirinho que sai da cozinha chama atenção da vizinha e assim por diante. Vários negócios começam assim”, comenta.

Uma das alunas do curso exemplifica bem a situação descrita pela instrutora Neusa. A dona de casa
Marisângela da Silva, 38 anos, começou o curso visando economia em casa e, já na metade do curso, está descobrindo um novo rumo profissional. “Esta semana, com pouco mais de R$ 10 preparei 28 coxinhas. D,eu para toda a minha família comer e mais a vizinhança, que já quer encomendar, porque ficou muito boa”, garante.

Para comprar as 28 coxinhas de 100g em uma padaria, a dona de casa teria que desembolsar pelo menos R$ 84, levando em conta um valor de R$ 3. Só que o tempo gasto no preparo da massa e a fritura da coxinha foi de aproximadamente três horas.

Esse também é o tempo médio para fazer pão caseiro. O instrutor Jonas explica que até na comparação com os pães industrializados vendidos nos supermercados, a economia obtida quando se prepara em casa é de três a quatro vezes menor que o produto comercializado.

E não é necessário ser um craque em matemática para constatar que essa diferença também se comprova na maioria dos doces e salgados. Um pudim de leite inteiro, que custa em média R$ 30 na padaria, pode ser feito por menos de R$ 10 em casa. “E o fazer em casa vem acrescido do toque pessoal, que faz toda a diferença no convívio social e as pessoas cada vez mais valorizam esse vínculo através da gastronomia”, avalia o gestor de confeitarias do Senac, Gilberto Pereira Dias.