O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) criou uma frente de pesquisa para aprofundar estudos sobre o pleno emprego no País. A avaliação da instituição é de que as análises feitas por muitos economistas sobre o tema carecem de um embasamento mais profundo. Os estudos do Ipea devem se apoiar basicamente nos dados das Pesquisas de Emprego e Desemprego (PEDs), que são conduzidas em convênios com o Dieese.
Segundo o Ipea, essas pesquisas dão uma noção mais ampla do emprego no Brasil, uma vez que incluem informações sobre o desemprego oculto (resultado da soma do desemprego oculto pelo trabalho precário e pelo desalento), ao contrário da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). No boletim Conjuntura em Foco divulgado hoje, o instituto mostra que a taxa de desemprego oculto representa cerca de 50% da taxa de desemprego aberto em algumas regiões metropolitanas, como nas de Salvador e Recife, por exemplo. Já em São Paulo, essa proporção é de cerca de 30%, constatou o Ipea com base em dados das PEDs de junho de 2011.
“Uma parcela da população ocupada no Brasil está na verdade insatisfeita e percebendo que sua capacidade produtiva está sendo subutilizada”, comenta o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Fernando Mattos. Ele destacou, porém, as qualidades da PME, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e afirmou que o Ipea também levará esses dados em consideração.
O Ipea avalia também que uma vez que a PME reflete apenas a realidade de seis regiões metropolitanas, deixando o interior de fora, acaba não captando movimentos importantes, como a geração de emprego pelo agronegócio. Para o Ipea, análises equivocadas de que o País está em pleno emprego podem gerar a sensação de que a inflação pode “explodir”. “Usam-se links frágeis para fazer conclusões muito fortes”, afirmou o coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Ipea, Roberto Messenberg.
Ele diz que o País deve evitar frear bruscamente a economia como forma de controlar a inflação, pois, em sua avaliação, as altas dos preços são influenciadas em parte por fatores externos. “Não me parece lógico e acho que deve ter sido essa a linha de pensamento do Banco Central”, comentou, sobre a última redução na taxa básica de juros, a Selic.
