Rio – O primeiro cenário macroeconômico projetado para este ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é pior do que o montado no fim do ano passado pelo órgão. A projeção de inflação para este ano passou de 9% para 12,6%.
Já a estimativa para o crescimento da economia, que havia sido informalmente elevada a 2% em janeiro, voltou à taxa de 1,8% – um ponto percentual inferior à previsão do Ministério do Planejamento, ao qual o Ipea está ligado. “Estamos projetando o mesmo crescimento, mas com a inflação mais alta.
“É um cenário pior do que o anterior”, disse o coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do instituto, Paulo Levy.
Para o economista, contudo, o quadro deste início do ano apresenta avanços comparado aos últimos meses de 2002, com a redução da taxa do risco-País (de 2.400 pontos para perto de 1.155) e da taxa de câmbio (de R$ 3,90 em fins de outubro para R$ 3,50).
Na prática, Levy aponta que a “variável central” para a economia ao longo deste ano será a inflação e as políticas monetárias restritivas que o Banco Central terá de manter ou ampliar para evitar um descontrole na escalada de preços. O BC já elevou a taxa Selic para 26,5%, no mês passado, patamar no qual deverá ficar até junho deste ano, segundo o cenário do Ipea. Esta projeção e a de inflação a 12,6% no ano levam em conta que a guerra contra o Iraque ocorrerá e terá curta duração. As projeções do Ipea mostram que “o cumprimento da meta (ajustada de inflação, de 8,5%) em 2003 mostra-se, uma vez mais, tarefa de difícil realização”. “Se quer menos inflação, tem que ter mais superávit primário ou um aumento de juros”, reconhece o economista, completando que “eventualmente vale a pena sacrificar o curto prazo em troca de um futuro mais favorável”. Não à toa, as projeções do Ipea para 2004 contemplam crescimento de 2,8% e inflação de 9,1%.
O economista comentou, com base nos modelos utilizados pelo instituto, que o BC reagiu “tardiamente” ao repasse de preços e deveria ter elevado os juros antes de outubro. E chegou a dizer que o BC deveria “olhar menos para as projeções de mercado e usar o próprio instinto ou modelos mais simples”, afirmou. Segundo o economista, as estimativas do mercado freqüentemente subestimam a inflação futura, conforme estudo do Ipea.
Levy acredita que a inflação em fevereiro deve mostrar algum recuo, beneficiada pela safra agrícola, o que não será suficiente para reverter a tendência dos meses anteriores, quando ocorreram choques provocados por tarifas públicas, aliados a repasses generalizados da alta do dólar ao preços internos. Este é um dos efeitos colaterais do elevado ajuste externo brasileiro, com base no dólar alto, que gera aumento de preços.
Consumo deve crescer
O crescimento projetado para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano contempla avanço de 3,3% na agropecuária, 2,3% indústria e 1,1% nos serviços. Levando em conta a divisão pela demanda, espera-se um crescimento de 1% no consumo, 1,5% no investimento – depois de dois anos seguidos de quedas -, 11,4% nas exportações e 4,1% nas importações. Para o ano que vem, o avanço no consumo saltaria para 3,5% e nos investimentos, para 5,1%.
O câmbio médio previsto pelo Ipea para este ano foi elevado de R$ 3,42, previsto no último boletim de conjuntura, para R$ 3,54. A previsão de saldo da balança comercial para este ano passou de US$ 15 bilhões para US$ 16,2 bilhões e o déficit de transações correntes foi ajustado de US$ 6,8 bilhões para US$ 4,9 bilhões. A taxa de desemprego permanece estimada em 7,2% e o rendimento médio do trabalhador é de 1,3%.