Conjuntura em Foco

Ipea diz que parte do fluxo de capital é de filiais brasileiras

Boa parte do fluxo de capitais que tem entrado com vigor no Brasil é dinheiro nacional sendo repatriado para fins especulativos, segundo um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A 5ª edição do boletim Conjuntura em Foco aponta que muito do Investimento Estrangeiro Direto vem de filiais de empresas brasileiras no exterior, mas o nível de volatilidade mostrou-se semelhante ao de investimentos em carteira.

Os investimentos estrangeiros diretos são basicamente empréstimos entre companhias e participação no capital de empresas. Houve aumento na entrada de capitais tanto por empréstimos entre companhias, que subiram 119% no primeiro semestre, quanto pelo ingresso de participação no capital, que registrou alta de 77% na mesma comparação. No entanto, no caso dos empréstimos, o movimento foi considerado bastante atípico.

“As amortizações recebidas (pelas matrizes brasileiras no País) foram muito maiores do que os empréstimos concedidos (às filiais no exterior), o que é muito estranho. Os investimentos estrangeiros diretos seriam investimentos em carteira disfarçados, para aproveitar os juros e burlar as medidas macroprudenciais”, disse Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões (GAP) do Ipea.

Os empréstimos das filiais estrangeiras para as matrizes brasileiras também aumentaram, somando US$ 4 bilhões de janeiro a junho de 2011, uma variação de 155% ante o mesmo período de 2010. Em adição, as amortizações recebidas pelas matrizes brasileiras referentes a empréstimos concedidos no passado às filiais estrangeiras somaram US$ 14 bilhões de janeiro a junho, um aumento de 179% frente ao primeiro semestre do ano passado. Segundo Messenberg, houve uma inversão do processo de internacionalização do capital brasileiro.

“Não tem porque manter seus investimentos lá fora se aqui as condições são mais atraentes. Uma grande parte desse capital é dinheiro brasileiro voltando para casa”, declarou o coordenador do Ipea. “O problema é que o investimento (na produção) está baixo, então isso não está vindo para aumentar a taxa de investimento doméstica. O recurso está indo para a renda fixa”.

Messenberg alertou ainda que as medidas tomadas pelo governo para inibir a entrada de capitais dão certo no curto prazo, mas, com o passar do tempo, as empresas descobrem formas de burlar as normas.

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