Ipea: desigualdade de renda no País cai ao menor nível

Embora a crise financeira internacional tenha causado retração da economia brasileira no quarto trimestre de 2008 e no primeiro trimestre de 2009, a desigualdade de renda no Brasil diminuiu no primeiro semestre deste ano e registrou a maior queda contínua desde março de 2002, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Em junho, o índice de Gini atingiu 0,493 ponto, o menor nível desde 2002, quando começou a ser apurado pelo Ipea com base nas informações sobre rendimento da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice de Gini é um coeficiente criado pelo italiano Corrado Gini em 1912 para medir a desigualdade, e varia de zero a 1. Quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade, e quanto mais perto de zero, menor a desigualdade. De janeiro a junho deste ano, a desigualdade de renda no País caiu 4,1%. A pesquisa abrange seis regiões metropolitanas: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

Segundo o Ipea, desde março de 2002 a desigualdade de renda no País caiu 7,6% – na época, o índice de Gini era de 0,534. Desde dezembro de 2002, quando o coeficiente atingiu 0,545, o pior resultado da série, a redução da desigualdade foi de 9,5%. Em outros dois períodos de destaque na redução contínua da desigualdade, o resultado foi inferior ao registrado de janeiro a junho deste ano. De abril a novembro de 2003, a desigualdade caiu 3,6%; e de março a outubro de 2007, 3,4%.

De acordo com o instituto, a redução do índice de Gini “pode estar relacionada tanto à perda de valor real das maiores rendas do trabalho como à proteção do conjunto dos rendimentos na base da pirâmide ocupacional nas regiões metropolitanas”.

“De um lado, a crise se manifestou de forma mais concentrada no setor industrial, que geralmente paga os melhores salários. De outro lado, temos a proteção da renda na base da pirâmide social brasileira, com aumento do salário mínimo e políticas de transferência de renda previdenciárias e assistenciais”, afirmou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.

Embora a redução da desigualdade tenha sido intensa no período, Pochmann ponderou que ela ainda não é suficiente. “Um índice de Gini acima de 0,4 ainda representaria péssima distribuição de renda. Há uma tendência de queda, mas ainda estamos longe de chegar a algo comparável a países mais avançados”, admitiu.

Pobreza

Segundo a pesquisa divulgada hoje, a taxa de pobreza chegou a 31,1% da população em junho deste ano nas seis regiões metropolitanas, atingindo 14,5 milhões de pessoas. Em março de 2002, a taxa de pobreza era de 42,5% da população e atingia 18,5 milhões de habitantes. Nesse período de sete anos, quatro milhões de brasileiros deixaram a pobreza, uma redução de 26,8%. De janeiro de 2007 a junho de 2009, a pobreza caiu 6,1%, de forma ininterrupta, a uma média mensal de 0,35%.

A pobreza desde 2002 diminuiu mais fortemente em Belo Horizonte, onde a queda foi de 35,5%, Porto Alegre (-33,6%) e Rio de Janeiro (-31,2%), e de forma mais lenta, abaixo da média nacional de 26,8%, em São Paulo (-25,2%), Salvador (-23,9%) e Recife (-14,1%). Em junho, a maior taxa de pobreza foi registrada em Recife (51,1%), e a menor em Porto Alegre (25,7%). Em São Paulo, ela chegou a 27%; no Rio, 29,6%; em Belo Horizonte, 30%; e em Salvador, 44,3%.

No Rio, 1,4 milhão de pessoas deixaram a pobreza; em São Paulo, 1,3 milhão; em Belo Horizonte, 600 mil; em Porto Alegre, 400 mil; em Salvador, 200 mil; no Recife, 100 mil pessoas.

No comunicado, o Ipea destaca que os indicadores sociais apresentaram um comportamento diferente nessa crise em comparação ao que normalmente ocorria em períodos de retração da economia. “A situação atual apresenta algo de novo em relação a outros momentos de grave manifestação de crise econômica no Brasil. Ao contrário dos períodos de 1982/83, 1989/90 e de 1998/99, quando a inflexão econômica implicava aumento da pobreza nas regiões metropolitanas, não se observa crescimento na taxa de pobreza desde o último trimestre de 2008”, diz o texto. A instituição ressalta que ainda é preciso analisar o que motivou essa mudança, mas afirma que “a interferência da política anticíclica deve também estar resultando em efeitos compensatórios suficientes para evitar o agravamento social nas regiões metropolitanas”.

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