A crise no mercado de trabalho fez aumentar o número de pessoas em situação de desalento, aquelas que gostariam de trabalhar mas que não procuravam emprego acreditando que não conseguiriam uma vaga. O fenômeno é explicado, em parte, porque cresceu o total de indivíduos que se veem obrigados a procurar por um trabalho para ajudar na renda da família. Alguns tomaram providência para encontrar uma vaga, outros se juntaram ao contingente de desalentos.
A avaliação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Ipea notou que a População Economicamente Ativa vem crescendo próximo de 2% nos últimos anos, indicando que há em curso um aumento no fluxo de pessoas saindo da condição de inativos para integrar a força de trabalho. Para compreender o crescimento do desalento nesse contexto, o instituto observou a trajetória da população inativa, separada em três grupos: pessoas que gostariam de trabalhar, mas que não procuraram trabalho por se sentirem desalentadas; pessoas que gostariam de trabalhar, mas que não procuraram trabalho por outro motivo; e pessoas que não gostariam de trabalhar.
“Entre o início de 2015 e o início de 2017, onde houve um acentuado aumento do desemprego, observa-se que o grupo do desalento acompanhou essa subida da desocupação. Nesse período, o montante de desalentados registrou um crescimento de quase 2 pontos porcentuais em relação à População em Idade Ativa (PIA)”, ressaltou o grupo de pesquisadores do Ipea na Carta de Conjuntura divulgada nesta terça-feira.
O movimento deveria resultar num aumento da inatividade e redução da força de trabalho. Mas a População Economicamente Ativa também apresentou expansão, porque houve queda significativa da parcela dos inativos que declaram que não gostaria de trabalhar. Ou seja, houve aumento no número de desalentados, que aderiram à inatividade, mas houve migração de pessoas inativas que precisaram voltar ao mercado de trabalho mesmo contra a própria vontade.
“Esse cenário nos parece condizente com um aumento do desemprego e uma retração dos rendimentos. Nesse contexto, é possível que indivíduos que se dedicavam exclusivamente a outras atividades (como estudos ou afazeres domésticos) passem a desejar trabalhar para compensar uma perda de renda e/ou de emprego de um familiar e/ou de outro membro do domicílio”, justificou o Ipea, no estudo.
Como alguns desses indivíduos que se veem impelidos a voltar forçadamente ao mercado de trabalho podem desistir de buscar emprego por acreditar que não conseguiriam uma vaga, eles também ajudam a engrossar a população em desalento.
“O aumento do desalento nos últimos meses é decorrente de uma mudança de composição da população em idade ativa: parte dos indivíduos que antes estavam na inatividade e não tinham nenhuma intenção de trabalhar se incorporou ao grupo de pessoas que trabalhariam se conseguissem uma ocupação. Por fim, deve-se destacar que essa transição em direção ao desalento não sinaliza uma piora nas condições do mercado de trabalho, apenas indica uma mudança de comportamento por parte da população”, concluíram os pesquisadores do Ipea.