A ampliação das relações comerciais, financeiras e produtivas entre Brasil e China trazem oportunidades no curto e médio prazo, mas podem representar ameaças para o País no longo prazo. Entre os riscos estão a perda de participação das exportações brasileiras em terceiros mercados para a China, ‘desadensamento’ da estrutura produtiva nacional, perda do controle estratégico sobre fontes de energia e aumento da vulnerabilidade externa estrutural. Esta é a conclusão do documento “As relações bilaterais Brasil-China. A ascensão da China no sistema mundial e os desafios para o Brasil”, divulgado hoje pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).
O pesquisador Eduardo Costa Pinto afirmou que a ampliação do comércio bilateral promove uma pressão competitiva das manufaturas chinesas sobre o parque industrial brasileiro. O Brasil tem perdido participação nas exportações de maior intensidade tecnológica em terceiros mercados (Europa, Estados Unidos e América Latina) em virtude da expansão das exportações chinesas.
Além disso, o Brasil tem importado cada vez mais produtos de alto valor agregado da China e exportado commodities para aquele país. No entanto, Costa Pinto diz não acreditar que a balança comercial entre Brasil e China passe a ficar deficitária para o lado brasileiro. Apesar da tendência de o Brasil importar cada vez mais produtos manufaturados da China, o pesquisador acredita que o Brasil também deve ampliar as vendas de alimentos para os chineses.
“Mesmo com a redução do crescimento econômico, a questão dos alimentos é central para eles. É um dos grandes limites do crescimento chinês”, afirmou. Essa demanda por alimentos na China, diz Costa Pinto, elevou o preço internacional dos produtos. Por outro lado, como a China ganhou escala na produção de manufaturados, tem reduzido o preço desses produtos comprados pelo Brasil. “Isso dá uma folga para o Brasil”, disse. Ele alerta, no entanto, que a pressão competitiva das manufaturas chinesas tende a gerar um processo de desadensamento da cadeia produtiva doméstica.
Investimento
Para o pesquisador, também há o risco de uma forte expansão do investimento direto chinês no Brasil fora das prioridades da política industrial e a perda do controle estratégico do Brasil sobre as fontes de energia e de recursos naturais. “O Brasil precisa ter uma regulação sobre a entrada de investimento chinês. Queremos que a entrada dos chineses no agronegócio, por exemplo, seja para agregar valor local e não para comprar terra e mandar soja pra fora”, destacou o pesquisador. Para ele, o funding chinês pode potencializar os investimentos brasileiros em infraestrutura.
“Se, por um lado, o Brasil pode contribuir com o avanço tecnológico da China no campo do petróleo, da energia, dos minérios e dos alimentos; por outro lado, a China pode contribuir com o avanço tecnológico do Brasil no âmbito da indústria intensiva em tecnologia, da indústria aeroespacial e da mudança do paradigma energético para a energia limpa”, diz o documento.
O Ipea recomenda algumas estratégias para o governo brasileiro enfrentar os desafios da ampliação das relações com a China. Um deles é usar de forma mais intensa os instrumentos de defesa comercial no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Também defende a necessidade de negociar com o governo chinês o estabelecimento de condições isonômicas para a operação das empresas brasileiras na China. O pesquisador do Ipea lembra que a atuação de empresas brasileiras na China ocorre em setores regulados pelo governo chinês, o que dificulta o acesso ao mercado.