A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usada como balizador da meta oficial do governo, acumulou alta de 12,53% em 2002, ultrapassando todos os limites fixados. A escalada do dólar pressionou os preços no segundo semestre e foi o principal fator responsável pela maior taxa anual registrada no País desde 1995, quando atingiu 22,41%.
A variação extrapolou até mesmo a última meta negociada pelo governo em dezembro com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que previa inflação máxima de 11% no ano passado. A projeção inicial, que ainda serve como meta interna, era de inflação de 3,5%, podendo chegar ao limite máximo de 5,5%, ou seja, menos da metade da taxa efetivamente alcançada.
A gerente do Sistema de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calcula o índice, Eulina Nunes dos Santos, avalia que o IPCA de 2002 foi “uma inflação de custos”. Ela lembrou que a desvalorização do real no período “atingiu os diversos produtos em proporções diferentes”.
Mas, apesar da taxa recorde, a inflação chegou ao final de 2002 em trajetória de desaceleração. O IPCA de dezembro atingiu 2,10%, variação inferior aos 3,02% registrados em novembro e que foram o recorde do Plano Real. A queda de um mês para o outro foi resultado da redução no ritmo de reajustes dos alimentos e combustíveis.
A influência do dólar foi mais intensa no segundo semestre. A taxa de inflação acumulada nos últimos seis meses do ano totalizou 9,32%, ante 2,94% no primeiro semestre. O IPCA triplicou no período empurrado especialmente pelos alimentos, exatamente o item que mais ajudou a conter a inflação no primeiro semestre, com alta acumulada de apenas 0,6%. Na segunda metade do ano, os preços dos alimentos registraram aumento de 18 76%.
Os produtos alimentícios deram a principal contribuição para a alta da inflação no ano passado, com aumento acumulado de 19,47%. E foram responsáveis, sozinhos, por 4,63 ponto porcentual da taxa, ou seja, por um terço da inflação anual.
A elevação foi reflexo direto da alta do dólar e foi mais intensa em produtos como farinha de trigo (75,57%), óleo de soja (73,07%), açúcar refinado (66,23%) e feijão carioca (61 79%). Derivados desses produtos também acompanharam o ritmo.
Embora com variação menos intensa, o pão francês, por exemplo, deu a maior contribuição individual (0,52 ponto porcentual) para a alta dos alimentícios no ano, com aumento de 37,14%.
Mas, a maior contribuição individual para a inflação do ano foi dada pelas tarifas de energia elétrica, que registraram alta acumulada de 19,88% no ano passado, participando sozinhas com 0,77 ponto porcentual para o IPCA. Outras contribuições significativas para a inflação acumulada em 2002 foram dadas pelo gás de botijão (48,33% de aumento e contribuição de 0,65 ponto porcentual); ônibus urbanos (12,06% e 0,56 pp) e gasolina (12,09% e 0,53 pp).
Em dezembro, alimentos e combustíveis permaneceram com variações elevadas, apesar da redução do ritmo de reajustes em relação a novembro. A menor influência do dólar fez cair também o aumento do grupo alimentício para 3,91%, ante 5,85% em novembro.
Houve elevações menos intensas em alimentos que sofrem reflexo direto da moeda americana, como açúcar refinado (49,6% em novembro para 8,43% em dezembro), óleo de soja (8,45% para 5 42%) e pão francês (7,23% para 1,32%). No caso dos combustíveis, foram menores a variação da gasolina (de 10,53% para 1,28%), do álcool (de 26,35% para 2,96%) e do gás de cozinha (de 12,43% para 6,77%).
Por outro lado os remédios, que tiveram reajuste extraordinário de 8,63% autorizado a partir de novembro, subiram 5,86% e representaram a maior contribuição individual (0,22 ponto porcentual) para a inflação do mês.
INPC
A população mais pobre foi a que sofreu os maiores efeitos das altas nos preços no ano passado. A inflação medida pelo INPC (renda de um a oito salários mínimos) acumulou alta de 14,74% no ano, ou 2,21 ponto porcentual superior ao IPCA (renda de um a 40 salários mínimos). Em dezembro, o INPC registrou alta de 2,7%.
Eulina explicou que a inflação da camada de menor renda da população foi maior porque produtos que apresentaram altas significativas no período, como gás de botijão, energia elétrica e ônibus urbano, têm um peso maior no consumo dos mais pobres. Os resultados de 2002 repetiram o que já havia ocorrido em 2001, quando o IPCA subiu 7,67% e o INPC, 9,44%.
Curitiba foi a terceira menor
Olavo Pesch
A inflação para as famílias curitibanas com renda entre um e quarenta salários mínimos, medida pelo IPCA, fechou 2002 com variação de 12,66%. Foi o terceiro menor índice do País, um pouco acima da média nacional de 12,53%. No mês de dezembro, o IPCA de Curitiba foi 1,88%, o segundo menor percentual entre as capitais brasileiras. Já a inflação para famílias curitibanas com renda entre um e oito salários mínimos, medida pelo INPC, acumulou 14,74% ao longo do ano passado – igual ao índice nacional. O INPC de Curitiba em dezembro foi 2,31%, inferior à taxa nacional de 2,70%.
Os preços administrados subiram mais que a inflação no ano passado. Levantamento divulgado ontem pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) e Senge/PR (Sindicato dos Engenheiros do Paraná) aponta que os preços públicos tiveram alta de 17,55% em 2002. Em dezembro, o aumento de 2,66% foi pressionado pelas elevações de 19,57% na corrida de táxi, 10,91% no pedágio, 8,56% na tarifa de água, 7,61% no gás de cozinha e 1,36% na gasolina. O custo dos serviços públicos para uma família curitibana em dezembro foi de R$ 380,90.
Gás de cozinha subiu 540% no Plano Real
Nos oito anos e meio desde a implantação do Plano Real, em julho em 1994, a inflação bateu 137,93%, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre as maiores altas, estão as tarifas e preços administrados.
O maior percentual de inflação ocorreu com o gás de cozinha, cuja alta foi de 540,95%. A telefonia fixa e a energia elétrica, setores submetidos a processos de privatização durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, subiram 433,37% e 255,91%, respectivamente. Só a telefonia fixa, por exemplo, subiu 124% acima da inflação do período.
Os alimentos, que têm o maior peso no consumo dos brasileiros, subiram 105,84%, abaixo do IPCA acumulado no Plano Real até dezembro de 2002. Os alimentos, muito suscetíveis à alta do dólar, subiram bem mais nos anos de maior desvalorização do real. Em 1999, ano da maxidesvalorização, os alimentos atingiram alta de 8,14% em seus preços. No ano seguinte, variaram 3,20%. Mas em 2001, a subida foi de 9,63%. Em 2002, com o aumento do dólar durante boa parte do ano (de maio a novembro), a alta chegou a 19,47%.
Entre as nove regiões metropolitanas e duas capitais pesquisadas, o Rio de Janeiro foi a área que registrou a maior inflação acumulada, de 148,96%. A menor taxa foi apurada em Fortaleza, com inflação de 123,20%.