Os aumentos de impostos promovido pelo governo Dilma Rousseff vão levar a inflação a registrar as taxas mais elevadas para o período entre janeiro e fevereiro em 12 anos. Dados preliminares do próprio Ministério da Fazenda apontam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve acumular uma alta igual ou superior a 2% entre janeiro e fevereiro deste ano. Será um resultado quase duas vezes superior ao verificado em igual período de 2014.

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O IPCA, segundo informou ao jornal O Estado de S. Paulo uma fonte da Fazenda, deve registrar uma variação entre 0,9% e 1,1% nos meses de janeiro e fevereiro. A alta pode se repetir também em março, se o governo decidir repassar às contas de luz os valores reivindicados pelas distribuidoras de energia elétrica.

Desde 2003, o IPCA não registra uma elevação igual ou superior a 1% em janeiro. No ano passado, o índice avançou 0,55% em janeiro e 0,69% em fevereiro. O Ministério da Fazenda não comentou oficialmente as projeções.

É cristalina no governo, no entanto, a percepção de que a inflação deve “piorar antes de melhorar”. O ministro Joaquim Levy tem, inclusive, sustentado essa visão em reuniões no Palácio do Planalto. Em uma delas, defendeu diante da presidente Dilma Rousseff a necessidade de “sustar” os repasses do Tesouro Nacional às distribuidoras de energia, forçando o aumento da conta de luz para sustentar as necessidades de caixa das empresas elétricas.

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Embora essa visão sobre inflação seja consensual no governo, neste momento, setores do Planalto demonstram desconforto com o “remédio amargo” para evitar uma subida mais forte da inflação: o aumento da taxa de juros. Hoje, o Banco Central deve anunciar uma nova elevação da Selic, que deve atingir 12,25% ao ano. Os juros básicos brasileiros são um dos mais elevados do mundo.

Pacote

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As medidas tributárias anunciadas pelo ministro Joaquim Levy na segunda-feira apontam para direções opostas, sob a perspectiva de inflação. Por um lado, o aumento de impostos sobre o crédito a pessoas físicas busca reduzir o ímpeto do consumo e, consequentemente, a pressão sobre os preços. De outro, porém, o aumento de tributos sobre a gasolina e o óleo diesel e sobre produtos importados elevará preços em todo o País.

Os economistas do setor privado trabalham com estimativas ainda mais pessimistas para a inflação do que governo. Fábio Romão, especialista de inflação da LCA Consultores, avalia que o pacote de aumento de impostos anunciados por Levy nesta semana vai fazer o IPCA chegar a 7,2% no fim deste ano. Antes das medidas, Romão projetava uma inflação de 6,9% – isto é, independentemente do pacote, a inflação ultrapassaria o teto da meta perseguida pelo Banco Central – a meta oficial é de 4,5% ao ano, com tolerância de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo. Em 2014, o IPCA ficou muito próximo de estourar o teto da meta ao fechar em 6,4%.

Imposto

Romão afirma ainda que a alta de preços seria ainda maior se não fosse o baixo crescimento da economia e outras medidas do próprio pacote do governo. “O aumento de impostos retira renda das famílias, que ficam com menos recursos para gastar na economia, e isso diminui a pressão sobre os preços”, diz Romão. O economista projeta uma alta do IPCA de 1,22% em janeiro e de 1,13% em fevereiro.

O aumento da inflação deve reduzir o ritmo de avanço da renda das famílias neste ano. Nas contas de Romão, a renda real deve registrar uma alta de 1,5% em 2015 – número inferior aos 2,8% que o economista estima ter sido a elevação do ano passado.

Outra medida do pacote foi a elevação de impostos para o setor de cosméticos. Os economistas Tobias Stingelin e Alexandre Amson, do banco Credit Suisse, afirmam que a medida deve chegar aos preços finais dos produtos. “Os fabricantes parecem estar dispostos a aumentar preços para ofuscar o impacto dos impostos, principalmente à luz de outras altas de custo, como câmbio, energia e mão de obra”, assinalaram, em um relatório enviado ontem a clientes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.