A inflação medida na cidade de São Paulo pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) ficou em 1,28% em outubro, ante 0,76% em setembro. Foi a maior taxa desde agosto de 2000, quando o índice havia variado 1,55%.
A pressão que a alta do dólar vem exercendo sobre os preços e o novo reajuste dos combustíveis levaram o coordenador do IPC-Fipe, Heron do Carmo, a aumentar em um ponto porcentual sua previsão de inflação para este ano, que passou de 5,5% para 6,5%. Para dezembro, no entanto, o economista estima que o IPC deverá voltar a ficar abaixo de 0,5%.
“O pior da pressão do câmbio já passou, aconteceu em outubro. Este mês, teremos o efeito do reajuste dos combustíveis mas em dezembro a taxa deverá retomar o comportamento padrão, com variação abaixo de 0,5%”, disse Heron, que prevê variação de 1% para o IPC este mês.
Até outubro, o índice acumulava uma variação de 6,05% no ano. Só o reajuste dos preços da gasolina (estimado em 9% nos postos, pela Petrobrás) e do gás de cozinha (12%) terá impacto de 0,31 ponto porcentual no IPC deste mês. “Quando a Petrobras sugere um determinado reajuste, os postos elevam os preços acima do esperado, mas depois de algum tempo voltam atrás por força da concorrência e da retração do mercado”, disse o economista da Fipe.
Apesar da pressão no curto prazo, ele acredita que o reajuste dos derivados de petróleo vai facilitar o trabalho do próximo governo. Na sua avaliação, o mais provável é que não deverá haver necessidade de novos reajustes no ano que vem, uma vez que os preços atuais refletem uma taxa de câmbio de R$ 3,2, que segundo ele é a que deverá prevalecer.
Para o coordenador do índice da Fipe, está praticamente descartada a possibilidade de a inflação atingir dois dígitos em 2003, embora ele também tenha revisto para cima sua projeção de taxa para o período. Ele agora prevê inflação de 5% no próximo ano, ante uma expectativa inicial de 3%. Isto por causa de efeitos secundários da alta do câmbio, como o impacto sobre o preço das tarifas e dos transportes de produtos, entre outros, que deverão ser registrados até 2004.
Heron do Carmo fez questão de ressaltar que a taxa de câmbio não deverá mais apresentar variações tão significativas como ocorreu nos últimos dois anos, período em que o dólar acumulou valorização de 100% frente ao real. Se isso se confirmar, deverá contribuir para a estabilização e até redução da taxa de inflação em 12 meses. “Só chega a dois dígitos se houver uma mudança radical na política econômica, o que seria uma temeridade”, afirmou.
Susto
No mês passado, porém, o comportamento dos preços surpreendeu. No começo de outubro, a Fipe previa uma taxa de 0,6% para o mês, mas mudou a projeção para 0,80% e depois para 1,10%. O resultado final não só superou todas as expectativas do instituto como atingiu o nível mais elevado em 26 meses. “Outubro é um mês que normalmente não dá sustos, mas os preços sofreram o impacto das pressões da taxa de câmbio, que disparou no período pré-eleitoral.”
Os preços mais afetados foram os da alimentação, que subiram 2,86%, em média, no mês passado, impulsionados pelas commodities agrícolas. O óleo de soja, por exemplo, subiu 11 03%. Já o arroz apresentou variação de 9,88%, principalmente porque a taxa elevada de câmbio inviabilizou a importação do produto, cujo abastecimento interno ficou comprometido com a quebra de safra.