Investimento foi o maior vilão do PIB

Os investimentos foram o principal vilão da economia brasileira no segundo trimestre. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB) despencou 11,2% na comparação com o segundo trimestre de 2013, como resultado de uma parada generalizada.

“Todos os componentes dos investimentos caíram”, disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Houve redução tanto na produção quanto na importação de bens de capital, como caminhões e máquinas e equipamentos usados nas fábricas.

O aumento das taxas de juros, a desaceleração do crédito e o mau desempenho da indústria automotiva contribuem para a baixa nos investimentos.

“A taxa de juros Selic aumentou em relação ao segundo trimestre do ano passado, de 7,5% para 10,9%. A desaceleração do crédito também tem a ver com isso, influenciando diretamente”, apontou Rebeca.

Indústria. A queda no investimento se reflete no recuo na indústria de transformação e na construção civil, que levaram o PIB industrial à quarta retração consecutiva na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

“Os empresários estão concretamente investindo menos. Se o seu produto declina há quatro trimestres, por que fazer novos investimentos?”, questionou Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor do Instituto de Economia da Unicamp.

Intervenção. Os setores com maior intervenção do governo são os “mais relutantes em investir”, na avaliação do economista para mercados emergentes da gestora britânica Schroders, Craig Botham.

“O fraco resultado do investimento sugere que as empresas têm pouca confiança no futuro e, com a recuperação global em curso, é provável que isso reflita preocupações domésticas”, disse Botham.

Intervencionismo. O economista da Schroders acredita que, além do intervencionismo em alguns setores, há pouca clareza sobre as perspectivas de temas como o ambiente tributário e o custo dos financiamentos.

“Enquanto a incerteza sobre a tributação e o custo do crédito permanecer, isso também pesa nas decisões. É claro que, mesmo com boas políticas, a alta taxa de juros torna o investimento difícil, mas seria muito mais fácil planejar com maior segurança sobre as políticas”, resume Botham.

PIB da indústria. No segundo trimestre, o PIB da indústria encolheu 3,4% em comparação ao mesmo período do ano passado.

A realização da Copa do Mundo diminuiu o número de dias úteis, mas também houve impacto da crise das expectativas. O excesso de desconfiança afeta não apenas os investimentos na produção, mas também a construção civil.

Há desânimo entre os empresários e apreensão entre os consumidores, ressaltou Almeida. As empresas estão mais cautelosas para apostar em infraestrutura e os consumidores, reticentes em assumir um investimento habitacional diante de incertezas e custos altos.

“É um bem que o consumidor vai pagar para o resto da vida, e, não vamos esquecer, a um custo altíssimo”, disse Almeida, da Unicamp.

Queda. Na comparação com o primeiro trimestre, a queda no investimento foi de 5,3%. No mesmo período, o PIB industrial recuou 1,5%.

O economista Gesner Oliveira, sócio fundador da GO Associados, lembra que a queda entre as atividades industriais está bastante disseminada, com reflexo sobre outros setores da economia, como o de serviços, cujo PIB também caiu (-0,5%) nessa base de comparação.

“A recessão industrial já bateu no setor de serviços. E quando a gente olha os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a gente vê que já chegou ao mercado de trabalho também”, notou Oliveira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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