Se em 2005 a crise política brasileira passou praticamente despercebida pelo mercado financeiro, em 2006 ela poderá ser decisiva. Tudo por conta da eleição presidencial e, principalmente, das medidas governamentais e possíveis denúncias que poderão surgir no período pré-eleitoral. ?Não estamos com problemas econômicos, nem financeiros. Nosso risco é político?, apontou o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Paraná (Ibef-PR), Luiz Afonso Cerqueira.
A exemplo do que ocorreu em 2002 – quando o mercado temia a vitória de Lula à Presidência da República, fazendo com que o dólar disparasse -, 2006 também pode ser marcado por turbulências. ?O mercado está preocupado com o que pode acontecer antes das eleições. Preocupado, por exemplo, que o atual governo adote uma linha mais populista para tentar se reeleger, como o abandono do controle da inflação ou a adoção de taxas de juros muito baixas. A contrapartida seria muito negativa?, analisou. ?O grande problema do mercado é que ele vive de expectativas. Depois, tudo volta ao normal.?
Colocando de lado o fator ?eleição?, a expectativa do mercado, segundo Cerqueira, é que o mercado de ações volte a registrar boa rentabilidade, a exemplo do que foi verificado em 2005, quando o Índice Bovespa – principal indicador da Bolsa – fechou o ano com valorização de 27,71%. ?As previsões indicam que será um ano bom para a Bolsa, com crescimento de 15% a 16%?, afirmou. Em 2005, lembrou, a valorização das ações ocorreu principalmente por conta da taxa de câmbio e da taxa Selic. ?Os preços das nossas ações são muito baixos frente aos do mercado internacional?, avaliou. Apesar da expectativa de redução da taxa básica de juros – dos atuais 18% para 15% ao ano, em 2006 -, Cerqueira lembrou que a taxa real de juros do Brasil ainda é muito alta. ?Com a inflação prevista em 4,7% para 2006, a taxa real de juros seria de 9,8%, ainda uma das mais altas do mundo?, observou.
Em 2005, também superaram com folga a rentabilidade dos fundos corrigidos por taxas de juros, como os de Renda Fixa e DI. Segundo os dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimentos), a rentabilidade dos referenciados DI foi de 18,80% no ano. Fundos de renda fixa tiveram ganhos de 18,44%. ?Todas as alternativas ficaram muito próximas, pelo menos em termos de comparação com a inflação?, analisou Cerqueira.
Prejuízo
Prejuízo mesmo teve quem investiu em dólar. Três meses consecutivos de compra de dólares pelo Banco Central (BC) não conseguiram impedir que a moeda americana encerrasse o ano com desvalorização de 12,40% frente ao real – foi a maior queda desde 2003, quando as perdas foram de 18,02%. No último dia de negócios de 2005, a moeda americana recuou 0,85%, cotada a R$ 2,325 para venda. Para o vice-presidente do Ibef-PR, o cenário do dólar foi uma surpresa.
?O dólar surpreendeu e continua surpreendendo. A expectativa é que a moeda varie muito pouco no ano que vem. O mercado fala em R$ 2,40, R$ 2,43 (valor de um dólar), o que daria uma variação muito pequena, de 4,7%?, apontou Cerqueira. ?Mas se houver problema na questão eleitoral, pode ser que tudo mude e o dólar dispare?, ponderou.
Algumas opções de investimento para 2006
Com relação às opções de investimento, o vice-presidente do Ibef-PR, Luiz Afonso Cerqueira, costuma separá-las por categorias. ?Os pequenos poupadores (investimento abaixo de R$ 10 mil) não têm muita alternativa. Para esses, a poupança é a melhor opção, pela liquidez, facilidade de movimentação?, recomendou. Mas, lembrou ele, é preciso considerar também o ?horizonte de investimento?, ou seja, o prazo que se tem até usar os recursos. Nesse sentido, quem não for precisar do dinheiro num prazo mínimo de seis meses, os fundos de investimento surgem como uma boa opção.
Na faixa entre R$ 10 mil e R$ 100 mil, Cerqueira recomenda a aplicação em fundos de investimento, como de renda fixa, DI. Nessa faixa, afirmou, os fundos de ações também são uma boa alternativa para aplicar parte do dinheiro. Ele lembrou, porém, que este investimento é ideal para aquela pessoa que ?se dá ao luxo de não ter rentabilidade ou até perder?.
Já para quem tem acima de R$ 100 mil para investir, os CDBs surgem como boa opção, além de aplicações nos fundos de ações e até na própria bolsa de valores. Em 2006, de acordo com Cerqueira, o que pode voltar são os investimentos em imóveis – não em forma de imóveis físicos, mas de fundos de investimentos imobiliários, os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), isentos de imposto de renda. Ele alertou, no entanto, que o investidor desse ramo tome cuidado com a qualidade da carteira. ?É preciso ver qual é a construtora, os empreendedores, quem está administrando?, aconselhou, acrescentando que o investidor é quem assume o risco. (LS)
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