Em outubro do ano passado, Pillar de Paula Pouge, 58, foi surpreendida por uma boa notícia. O dinheiro que ela e o marido, o executivo André Alfred Pouge, investiram há 30 anos no Montepio da Família Militar, em liquidação extrajudicial desde 1986, poderia, finalmente, ser resgatado. A boa nova, porém, logo revelou-se um golpe que vem sendo aplicado há dez anos, de forma recorrente, em várias capitais.
“A pessoa identificou-se como Roberto Maluf, disse ser advogado e pediu o número da minha conta bancária para depositar o crédito”, conta Pillar.
Como o advogado não soube informar qual o valor a ser resgatado, ela desconfiou e pediu na época um contato pessoal – que foi marcado somente para o último dia 26 de junho, no Fórum de São Paulo.
Oito meses depois do primeiro contato, Pillar tinha certeza que o suposto advogado não iria comparecer e nem se deu ao trabalho de ir ao encontro. “Procurei o Banco Central e a Susep e fui informada de que se tratava de um golpe”, afirma.
Segundo Eliezer Fernandes Tunala, chefe do departamento de fiscalização da Susep (Superintendência de Seguros Privados), desde 1994 mais de mil reclamações sobre esse golpe chegaram à entidade.
Em agosto do ano passado, uma quadrilha que aplicava o golpe foi presa em Minas Gerais. Mas deixou herdeiros: nos últimos três meses, o número de casos voltou a crescer, totalizando 90 denúncias à Susep. Os golpistas sempre agem por telefone, contatando em geral viúvas ou filhos de pessoas que estavam cadastradas no montepio. Em alguns casos, a pessoa diz ser coronel do Exército, em outras ocasiões se faz passar por um advogado.
Lista
“Não sabemos como eles têm acesso à listagem dos participantes do montepio, e, quando acionamos o Ministério Público Estadual para investigar, eles somem”, diz Tunala. O liquidante do montepio, Errol Domingos Richetti, diz que também não faz idéia de como a lista de credores da entidade caiu nas mãos dos estelionatários.
Isca
Para fisgar os incautos, os golpistas acenam com valores altos a serem pagos pelo montepio (entre R$ 25 mil e R$ 50 mil), o que desperta a “cobiça” em alguns e a desconfiança em outros. Se a pessoa morde a isca, o segundo passo é pedir que ela deposite 10% a 15% do valor do crédito para cobrir as supostas custas da liberação do dinheiro. Quem faz o depósito fica a ver navios.
Além do montepio, os golpistas usam o nome de entidades como a Associação Previdenciária e Securitária Militar, que não existe, da Anapp (Associação Nacional da Previdência Privada) e da própria Susep. “É importante que as pessoas procuradas por estranhos, com qualquer oferta muito boa de seguro, entrem em contato com a Susep para obter orientação”, diz Tunala.
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Susep: 0800-218484 ou
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