Se depender do consumidor, a queda nas vendas de veículos deve persistir ao longo deste ano. A intenção de consumo de automóveis chegou ao nível mais baixo em junho de 2014 e não mostrou recuperação desde então. De acordo com Fundação Getulio Vargas (FGV), 91,9% dos consumidores disseram em julho não planejar a compra de um veículo, enquanto 6% programam a aquisição do bem para os próximos meses.

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Os dados são apurados desde 2005 no âmbito da Sondagem do Consumidor e foram obtidos com exclusividade pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. O quadro afeta não só veículos, mas também imóveis, cuja intenção de compra chegou ao mínimo em julho, e bens duráveis em geral.

Para analistas, os dados endossam argumentos de que não basta ter crédito disponível para impulsionar o consumo. Além do esgotamento visto após o forte crescimento entre 2010 e 2012 (puxado pela demanda ainda reprimida dos recém-chegados à Classe C), o cenário atual é de elevado endividamento das famílias, menor aumento da renda, juros maiores e desaceleração da economia.

Empresários e governo, por sua vez, vinham apontando a restrição ao crédito como o principal entrave ao consumo. Recentemente, comemoraram as medidas do Banco Central para aumentar a liquidez no mercado de crédito, com impacto estimado em R$ 45 bilhões. Mas economistas colocaram em xeque sua capacidade de injetar fôlego na demanda das famílias.

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“A intenção de compra de bens duráveis em geral depende não só de crédito, mas também de um ambiente econômico favorável, além de uma situação financeira mais confortável”, destaca a economista Viviane Seda, responsável pela sondagem da FGV.

O indicador de intenção de compra de automóveis tocou o mínimo de 13,7 pontos em junho e evoluiu para 14,1 pontos no mês passado, na série com ajuste sazonal. Mas a tendência ainda é de queda. “Talvez tenhamos de esperar um tempo para digerir o crescimento dos últimos anos”, observa o economista-chefe do Banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.

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O presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Flávio Meneghetti, observa que a intenção de compra em junho e julho provavelmente foi afetada pela realização da Copa do Mundo, mas a atividade mais fraca também pesa. “Sem dúvida, a demanda está mais desaquecida”, reconhece.

No caso dos imóveis, o indicador marcou 5,7 pontos em julho, também com ajuste. Apenas 2,4% dos consumidores pretendem adquirir um imóvel nos próximos meses, enquanto 96,7% não têm esse plano. Neste caso, o menor déficit habitacional e o efeito preço contribuem para arrefecer a demanda, diz o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo.

“Os dados evidenciam um processo de acomodação do consumo”, ressalta o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. “Não é porque tem crédito disponível que ele será dado. Depende de outras questões. A própria deterioração das condições econômicas pode provocar uma revisão por parte dos bancos (na disposição em liberar recursos)”, acrescenta.

Após crescer 32% em 2013, os financiamentos de imóveis devem atingir R$ 125,6 bilhões este ano, uma alta de 15%, prevê a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). O presidente da entidade, Octavio de Lazari Junior, classifica a taxa como “sustentável”. “O endividamento das famílias nos últimos quatro anos não cresceu. O que cresceu foi a fatia do crédito imobiliário na dívida”, afirma.

Sem incluir automóveis e imóveis, o índice de intenção de compra de bens duráveis também tem caído. Em julho, a queda foi de 0,5%, após taxas de -2,8% em junho e -3,7% em maio, segundo a FGV.