A terceira melhora consecutiva na Intenção do Consumo das Famílias (ICF) apurada em setembro é pontual e não revela uma tendência, apenas uma tímida recuperação. O índice medido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) registrou seguidas quedas no início do ano e, em junho, atingiu o pior nível da série histórica iniciada em janeiro de 2010.
“O patamar ainda é muito baixo em relação ao ano passado e não há perspectiva de um indicador que vá trazer a confiança a um nível maior até o fim do ano”, diz Juliana Serapio, assessora econômica da CNC. O ICF teve alta de 0,9% em setembro ante agosto, mas continua 3,4% abaixo do observado em setembro de 2013.
O elevado custo do crédito e o alto nível de endividamento são os fatores que vêm pesando mais no desaquecimento da intenção de compras a prazo. Juliana destaca que, apesar da estabilidade da taxa básica de juros, a Selic, em 11% ao ano desde abril, os juros à pessoa física continuam em alta. Segundo o Banco Central, a taxa média de juros de operações de crédito para a pessoa física vem subindo desde junho do ano passado (34,8%). Em julho de 2014, o indicador chegou a 43% ao ano.
O reflexo desse quadro é que o componente de Acesso ao Crédito medido na pesquisa de ICF vem atingindo sua mínima a cada mês. Em setembro, registrou queda de 0,6% na variação mensal, a menor da série histórica, e queda de 5,1% ante o mesmo período do ano passado.
Para a economista, a piora do Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que capta a percepção do consumidor a respeito da situação presente do mercado de trabalho, sinaliza que a perspectiva para a criação de vagas não é positiva. Isso reforça a ideia de que a melhora da Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é mais um efeito estatístico do que uma tendência firme.
A desaceleração dos preços de alimentos e bebidas nos últimos três meses ajudou a leve recuperação da confiança. “A inflação dos alimentos está tendo algum alívio, o que ajuda o orçamento das famílias a respirar, mas ainda segue muito alta. Não vejo até o final do ano um fator que vá motivar esse consumidor a comprar mais”, disse Juliana. A CNC reduziu sua previsão para o crescimento das vendas do varejo de 4% para 3,7% com base na última divulgação da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) pelo IBGE.