As intenções de compras de bens duráveis para os próximos seis meses registraram em fevereiro o pior nível desde setembro de 2005, quando foi iniciada a Sondagem das Expectativas do Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da fundação, Aloisio Campelo, essa cautela do consumidor é originada da piora na avaliação sobre a situação econômica atual, e principalmente nas expectativas ruins para a economia, nos próximos seis meses. “Para o consumidor, o ambiente econômico continua piorando. A economia brasileira até o momento não deu sinais de melhora”, afirmou Campelo.
Hoje, a FGV anunciou o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de fevereiro, feito com base em cinco quesitos da sondagem, e que mostrou queda de 1,4% ante janeiro, na série com ajuste sazonal. A parcela de consumidores entrevistados que planejam gastar mais com duráveis nos seis meses seguintes caiu de 8% em janeiro para 6,8% em fevereiro. E a parcela dos que pretendem gastar menos aumentou de 38,1% para 40,2%.
De acordo com Campelo, as respostas do consumidor para o levantamento de fevereiro se mostraram piores do que as apuradas no último trimestre do ano passado, período em que a crise financeira se agravou no mundo inteiro. Segundo o economista, a queda acumulada do ICC de setembro de 2005, data de seu início, até fevereiro de 2009 é de 17,44% – sendo que, somente de setembro de 2008 até fevereiro desse ano, a queda acumulada é de 13,4%. Em fevereiro, todas as faixas de renda apresentaram recuos nos ICCs, com destaque para as famílias pesquisadas com renda até R$ 2.100 (-2,5%) e com renda acima de R$ 9.600 (-2,8%). “Tanto os mais ricos quanto os mais pobres registraram queda na confiança”, observou.
Mas o que realmente influenciou a trajetória negativa do indicador como um todo, em fevereiro, foram as expectativas ruins quanto ao andamento da economia no futuro. Campelo explicou que as intenções de compras de duráveis são diretamente influenciadas por esse quesito. Isso porque esse tipo de compra quase sempre envolve financiamentos com prazos longos, visto que o preço do produto é de maior valor agregado.
O economista admitiu que a sinalização de menor intenção de compras de duráveis é uma péssima notícia para a indústria, que aguarda sinais de recuperação na demanda do mercado interno. “Realmente para a indústria, de uma maneira geral, tirando casos extremos com características específicas, como o setor automotivo por exemplo, os resultados não são nada animadores”, afirmou.
A avaliação sobre o futuro das finanças familiares também piorou, de janeiro para fevereiro. No período, subiu de 6,4% para 7,5% a parcela dos consumidores entrevistados que acreditam que a situação financeira familiar ficará pior, nos próximos seis meses.
Porém, os resultados negativos foram acompanhados de um dado em trajetória oposta: na sondagem do consumidor, houve leve melhora na avaliação do brasileiro quanto ao andamento do mercado de trabalho. Subiu de 3% para 3,5% a parcela de consumidores entrevistados que classificam como fácil a busca por emprego, atualmente.