Rio
– Apesar da instabilidade econômica que o País atravessa, os fundos de previdência privada, criados para garantir a aposentadoria do brasileiro, não param de crescer. Segundo dados da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp), no primeiro semestre deste ano as vendas de planos somaram R$ 4,4 bilhões, com crescimento de 16,06% em relação a igual período de 2001, quando a receita dos planos totalizou R$ 3,8 bilhões.Esse crescimento, diz o vice-presidente da Anapp, Oswaldo do Nascimento, traduz a mudança de cultura do País. Tanto que o avanço do mercado aconteceu mesmo diante dos baixos rendimentos apresentados por esses fundos este ano, em comparação, por exemplo, aos fundos DIs. Para se ter idéia, enquanto o primeiro rendeu 2,50% de maio até o último dia 4, os fundos DIs se valorizaram 3,99% em igual período.
Embora os números não sejam divulgados, de acordo com o vice-presidente da Anapp, a atualização diária dos títulos que compõem a carteira dos fundos de investimento (a chamada marcação a mercado) não afetou os planos de previdência.
“Quem faz um plano de previdência não está preocupado com o rendimento a curto prazo. Mas sim com o quanto vai acumular ao longo do período de contribuição. Como são fundos que aplicam por mais de 20 anos, em média, qualquer perda momentânea é recuperada mais à frente”, explica Nascimento, que é diretor-executivo da Itaú Vida e Previdência.
Na avaliação dos especialistas, grande parte da mudança de hábito do brasileiro está ligada à certeza de que a aposentadoria tradicional não garante a manutenção do padrão de vida das pessoas.
“Essa teoria vale para todas as idades. Identificamos também forte adesão por parte de pessoas com idade acima de 50 anos”, diz o presidente da Bradesco Vida e Previdência, Marco Antônio Rossi.
O gerente de Produtos de Previdência do Unibanco AIG, José Jorge Couri, acrescenta que na faixa etária acima dos 50 anos os fundos de previdência estão sendo utilizados também como diversificação de investimentos e planejamento tributário.
“Ter um imóvel nem sempre é tão vantajoso assim. Tem as despesas, como IPTU. Muitas pessoas preferem vender, fazer dinheiro e aplicar nesse tipo de fundo”, diz Couri.
A mudança de cultura também está inserindo uma nova geração no setor de previdência privada. Muitos pais, por acreditarem que perderam o tempo certo para aderir a algum plano, estão planejando a aposentadoria ou garantindo os estudos dos filhos. Oliveira informa que o Itaú já tem 50 mil planos destinados ao público jovem a partir do nascimento.
“Vendemos uma média de quatro mil planos desse tipo por mês”, afirma.
No rastro da febre juvenil, o Unibanco reformulou seu Previ Kids, que também está voltado para recém-nascidos. No Bradesco, informa Rossi, 10% das vendas já são direcionadas aos adolescentes.
“Esse movimento é por conta da conscientização dos pais, que perceberam a importância de garantir o futuro desde cedo”, diz.
A microempresária Rosa Maria Araújo se encaixa nesse perfil. Ela descobriu os planos de previdência aos 40 anos e a sensação de tempo perdido a fez contratar um plano de previdência para as duas filhas ainda na adolescência.
“Pesou no meu bolso o fato de não ter feito as contribuições desde cedo. Hoje, pago mensalmente metade da renda que desejo ter na aposentadoria. Quero mudar a história para as minhas filhas e garantir desde cedo a sua segurança. Como elas têm 40 anos até a aposentadoria, a contribuição é pequena e a renda, maior.”
