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Insatisfeito, Itaú Unibanco busca adequar resultados do CorpBanca em 2018

Apesar de caminhar para a reta final da integração do CorpBanca, o Itaú Unibanco ainda tem obstáculos pela frente, que incluem mais ajustes no balanço do banco em 2018 e recuperar seu potencial de rentabilidade, encostando em seus pares no Chile. Não significa, contudo, que o chileno vai gerar mais resultados neste ano, admite o CEO do Itaú CorpBanca, Milton Maluhy. O foco, neste momento, é reforçar o balanço do banco e aproveitar a melhora da economia chilena neste ano, tanto do ponto de vista da oferta de crédito como para ganhar mais em receitas de serviços, em um movimento similar ao que o Itaú fez no Brasil nos últimos anos, reduzindo o risco e aumentando a lucratividade.

Diante disso, o Itaú CorpBanca vai continuar reforçando seu colchão para perdas, as chamadas provisões para créditos duvidosos (PDDs), já que a fusão trouxe uma carteira de crédito não muito alinhada com o apetite de risco do sócio brasileiro. “No fundo, a gente tenta minimizar as surpresas. O que queremos ter é menos coisas inesperadas e que as carteiras (de crédito) estejam devidamente provisionadas para que as surpresas não aconteçam em magnitude relevante”, diz o CEO do Itaú CorpBanca, em entrevista exclusiva ao Broadcast, durante passagem ao Brasil.

No que tange aos resultados, porém, o executivo, que está no comando do CorpBanca desde o fim de 2015, admite que o Itaú não está satisfeito, ainda que considere o desenrolar da integração em linha com as expectativas. Pesa, sobretudo, segundo ele, a adoção do “jeito Itaú” no banco chileno, que exigiu um reforço do colchão para perdas do CorpBanca e também uma mudança no modelo de negócios, migrando transações para os canais digitais, que são mais eficientes, e reforçando a linha de receitas de serviços em busca de resultados mais recorrentes nos próximos anos.

“Sabíamos que os primeiros anos, em termos de resultados, iam ser mais difíceis por todos esses ajustes que estão sendo feitos. Como entendemos que é um negócio que tem prazo de 3 anos, eu diria que terminaríamos a fusão no primeiro semestre de 2019, para ter um segundo semestre limpo da junção e ter um ano de 2020 inteiro, já pós-fusão. Esse é o plano”, detalha Maluhy.

O Itaú, que desembarcou no Chile em 2007 após a aquisição do BankBoston um ano antes, selou uma fusão com o CorpBanca no início de janeiro de 2014, em linha com sua estratégia de crescer na América Latina. Quarto maior banco privado no Chile, considerando os dados de dezembro último, o Itaú CorpBanca soma US$ 46 bilhões em ativos. O Itaú controla a sociedade resultante da fusão, com valor de mercado de mais de US$ 5 bilhões – 36,06% de participação. Já os chilenos detêm uma fatia de 30,65% por meio do CorpGroup, cujo principal acionista é a família Saieh. O restante está nas mãos de minoritários.

Apesar de rumores de um relacionamento difícil entre os dois sócios, o CEO do banco chileno afirma que, do lado da família Saieh, há “consciência” do trabalho e dos ajustes que estão sendo feitos no Itaú CorpBanca. Segundo ele, não há insatisfação dos sócios, que estão “absolutamente comprados” com o projeto de longo prazo do Itaú CorpBanca. “Ao contrário, as relações (entre o Itaú e o CorpBanca) vão super bem e estão (a família) convencidos de que estamos no caminho correto”, afirma.

Questionado sobre se o Itaú teria interesse em adquirir a participação do sócio chileno, assim como fez no caso da sociedade com o mineiro BMG, Maluhy diz que essa pergunta tem de ser feita ao acionista. O Itaú Unibanco Holding, por sua vez, garante que a questão “não está na pauta dos acionistas” a despeito de reforçar que o CorpBanca é sua prioridade na América Latina, bem como ter uma posição de capital extremamente confortável. Do lado do Itaú CorpBanca, Maluhy afirma ainda que não tem conhecimento da intenção da venda – por parte da família Saieh.

Opção de venda

No ano passado, porém, o Itaú ampliou a sua participação no CorpBanca ao comprar 1,8 bilhão de ações detidas pelo CorpGroup. A família aproveitou uma opção de venda (put option) de ações prevista no acordo de acionistas. Poderia se desfazer de até 6,6% de sua participação até outubro do ano passado. Optaram, porém, por vender apenas cerca de 2%.

Mas a opção de venda tem também uma possibilidade de compra (call) por parte da família, em até cinco anos. Assim, eles poderão recomprar neste prazo, pelo mesmo valor de venda, acrescido de uma taxa de juros. Na prática, conforme Maluhy, é um instrumento de liquidez aos sócios.

Há, contudo, uma segunda put option associada ao resultado do Itaú CorpBanca, descontado o dividendo. Se esse valor ficar abaixo do limite determinado em US$ 370 milhões, a família pode exercer a opção de venda de ações correspondente à diferença. Neste caso, também tem o direito de recomprar essa fatia em até 5 anos.

Essa segunda opção de venda vale por oito anos fiscais. O primeiro deles é 2017, quando o lucro líquido da instituição somou US$ 93 milhões, abaixo do patamar que permite à família Saieh acionar a opção de venda.

No limite, se não exercer seu direito de recompra, a família poderia zerar sua participação somente com as opções de venda em até 8 anos. Caso sua fatia caia, porém, abaixo de 17%, o CorpGroup perde seus direitos políticos e, com eles, a indicação de conselheiros e do presidente do Conselho de Administração do banco. Logo, não faria sentido reduzir a fatia abaixo deste patamar.

Peso

O problema é que a integração do CorpBanca com o Itaú já pesa nos negócios do CorpGroup, controlado pela família Saieh. Depois da Moody’s, essa semana foi a vez da Standard & Poor’s rebaixar o rating da empresa de B- para CCC+, com perspectiva negativa, por conta da dificuldade de honrar suas dívidas nos próximos anos com um menor fluxo de dividendos do CorpBanca. Em relatório, a agência de classificação de riscos destaca que o atraso na consolidação de resultados da integração com o Itaú e o impacto de maiores provisões prejudicam a posição do CorpGroup.

Maluhy pondera, entretanto, que os momentos mais difíceis do Itaú CorpBanca estão sendo exatamente os primeiros anos da fusão. Superar esta etapa, conforme ele, é fundamental. “Acho que estamos na direção correta. Portanto, do ponto de vista do investidor, ninguém deveria ter intenção em vender, porque obviamente o banco não está no melhor momento nem de resultado nem de preço da ação”, acrescenta o executivo.

Quando se uniu ao CorpBanca, em 2014, o Itaú imaginava que conseguiria controlar o quarto maior banco do Chile em ativos sem pagar prêmio, como aconteceu nas operações com o BMG, em consignado, e na seguradora Porto Seguro. Desta vez, contudo, a instituição das famílias Setubal, Moreira Salles e Villela não conseguiu o mesmo feito. Pelo contrário, a fusão atrasou por questões regulatórias e ainda a dificuldade de combinar dois banqueiros em um mesmo grupo, cujo relacionamento, conforme fontes, não é tão amistoso.

O ano de 2018, após atrasos nas sinergias de custos, marca o início da terceira fase de integração do BIC, do Itaú, com o CorpBanca. Até agora, segundo o CEO do Itaú CorpBanca, cerca de 40% do potencial esperado foram alcançados. A partir do mês que vem, sistemas e plataformas da operação do Itaú e do CorpBanca começam a ser migrados para que fique apenas um banco sob o ponto de vista de tecnologia, conforme Maluhy.

O rito final da integração do brasileiro com o chileno se dará, de fato, com a unificação dos data centers, migrando os do ex-CorpBanca para os do ex-Itaú. Maluhy espera que isso ocorra até o primeiro semestre de 2019, quando, , a instituição conseguirá colocar um ponto final neste processo.

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