Em uma medida sem precedentes, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta terça-feira (18) a injeção de US$ 500 bilhões no mercado financeiro. O objetivo é de criar maior confiança nos empréstimos entre os bancos europeus diante da crise de créditos gerada pela turbulência norte-americana nos últimos meses. Para a instituição, o valor recorde poderá criar a liquidez necessária para evitar maiores problemas no mercado. Mas a abertura das torneiras pode não ser suficiente até que se saiba exatamente qual foi o prejuízo com a crise de crédito "subprime" (juros mais altos e maior risco de inadimplência). Para analistas, o problema não é falta de dinheiro, mas de confiança.
Desde outubro, alguns dos principais bancos europeus confirmaram perdas diante da crise americana no setor de crédito e imobiliário. Os resultados provaram que o impacto da situação nos Estados Unidos foi significativo também para os bancos franceses, alemães e ingleses. A mais recente repercussão foi sentida na Suíça, onde o UBS anunciou perdas de US$ 10 bilhões na semana passada. No mercado financeiro europeu, o ditado é de que se um banco suíço tem perdas, a vulnerabilidade do sistema está em seu ponto máximo.
Com a crise, os bancos hesitavam em fazer empréstimos entre eles afetando a liquidez do mercado. Para se ter idéia do risco, a taxa de juros dos empréstimos entre os bancos estava até ontem em 4,9% ao ano, contra uma taxa de juros básica de 4% na Europa. Os bancos antecipavam uma situação critica no mercado de créditos nas próximas duas semanas e passaram a cobrar mais por esse risco.
Reação
Hoje, a reação do mercado de créditos foi mais substancial que quando os maiores BCs do mundo – entre eles o Federal Reserve dos Estados Unidos – anunciaram na semana passada que atuariam de forma coordenada. O mercado, porém, esperava que a injeção fosse de cerca de US$ 100 bilhões. Com um volume de créditos cinco vezes maior e com taxas preferenciais por 16 dias, a iniciativa superou a coordenação entre a Europa e Estados Unidos no dia seguinte aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Com o anúncio da abertura das torneiras do BCE de hoje, a taxa de empréstimos interbancária caiu para 4,45% ao ano. O mercado avaliou a iniciativa como uma tentativa das autoridades monetárias de desfazer essas desconfianças entre os bancos e tentar resolver a crise criada pelos próprios bancos.
O BCE não foi o único a anunciar a injeção de recursos. Na segunda-feira, o Federal Reserve Bank já havia anunciado US$ 20 bilhões. O Banco da Inglaterra também colocou no mercado hoje outros US$ 20 bilhões à disposição para empréstimos aos bancos. Mas o governador do BC inglês, Marvyn King, deixou claro que a capacidade dos bancos centrais de salvar o sistema estava chegando ao final.
Hoje, apesar dos resultados positivos da medida do BCE, o mercado europeu não sabia se a injeção seria suficiente para recriar a confiança entre os bancos para que voltem a emprestar. O que preocupa as autoridades dos BCs na Europa é que essa desconfiança apenas aumente o risco de uma recessão nos Estados Unidos. A injeção, portanto, não deve ser a última.