Brasília (AE) – A Infraero, estatal que administra os aeroportos brasileiros, determinou ontem à Varig que retome ?imediatamente? os pagamentos diários das tarifas aeroportuárias para poder voar. O presidente da estatal, brigadeiro José Carlos Pereira, se mostrou flexível, entretanto, ao afirmar que essa cobrança pode não ser o ?colapso? da companhia aérea porque a Infraero aceita negociar o valor devido, diariamente, desde que a Varig ajuste sua malha de vôos. Atualmente, a Varig tem que pagar, por dia, R$ 900 mil em tarifas de pouso, decolagem e permanência nos aeroportos.
Um dia depois de dizer que a situação devedora da Varig com a Infraero está ?à beira do precipício?, o brigadeiro disse que pode ter exagerado ao usar a expressão, mas não recuou da avaliação: ?Toda empresa tem o seu precipício, cada um de nós tem o seu precipício e o segredo da vida é ficar longe desse precipício?, disse, depois de participar de reunião na Câmara dos Deputados para debater a crise da empresa aérea e ouvir reclamações de deputados por causa das palavras que usou no dia anterior.
O presidente da Varig, Marcelo Bottini, que participou da audiência, classificou de ?normal? e ?legal? a posição da Infraero de notificar, por escrito, a empresa sobre a cobrança diária, mas antecipou que neste momento a companhia não tem condições de arcar com este custo. ?Vamos negociar a melhor maneira de pagar, que seja confortável aos administradores públicos e também à Varig?, disse Bottini.
A situação de inadimplência, às vezes parcial e às vezes total, da Varig com a Infraero já se arrasta há pelo menos três anos. A companhia tem um débito total de R$ 515 milhões. Todas as empresas aéreas devem pagar para usar espaços nos aeroportos, mas a Infraero normalmente dá um prazo de 15 dias para esses pagamentos. A Varig tem sido cobrada diariamente desde 2005 quando começou a atrasar os recolhimentos. Em setembro passado, conseguiu uma liminar judicial e está até agora sem pagar as tarifas. Mas a liminar foi derrubada e a decisão publicada anteontem no Diário de Justiça, o que levou a Infraero a notificar ontem a Varig.
Malha
Pereira sugeriu que a Varig pode reduzir o custo de R$ 900 mil diários se modificar sua malha, diminuindo o número de vôos. O valor das tarifas depende do número de vôos realizados. ?Se ela não pode pagar 900, será que pode pagar 500 ou 90? Isso pode ser negociado, mas eu preciso desse respaldo jurídico forte para poder fazer essa negociação?, afirmou, dando a entender que o recolhimento diário é inegociável. A Infraero já chegou a ameaçar a cobrar as tarifas à vista da Varig. ?Eu sei que uma cobrança vôo a vôo é mortal para a empresa, por isso a mudança na malha pode otimizar as atividades e os custos?, completou.
O ministro da Defesa, Waldir Pires, que participou da reunião, declarou que o governo acompanha com ?preocupação? a situação da Varig, mas não tem qualquer medida a anunciar. ?Não estou aqui trazendo posições de governo?, afirmou. Os deputados e senadores, após duas audiência públicas seguidas sobre a crise da empresa, decidiram pedir por escrito ao governo que convoque uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Aviação Civil (Conac) para buscar uma solução para o problema.