Após um período de baixa, entre julho e agosto, a inflação deve voltar a registrar alta em setembro, embora com um ritmo mais brando, avaliou o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. A primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de setembro, divulgada nesta terça-feira, 10, mostrou alta de 1,02%, ante 0,13% na prévia de agosto.
A alta foi puxada pelo avanço do minério de ferro e, principalmente, pela soja, que registrou elevação de 9,72% no período, ante queda de 2,82% na prévia de agosto. O item teve o maior peso na alta do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que subiu 1,42% na primeira prévia deste mês. “A safra americana ainda não foi colhida e há uma incerteza climática que pode afetar os resultados, por isso o item apresenta uma grande oscilação, que deve ser inevitável até a colheita”, afirma Quadros em referência à soja.
O aumento se reflete em alta também nos preços do farelo de soja (6,91%), outro item com forte avanço no preço. Por ser utilizado como ração, o item também pesa no segmento de materiais para manufatura, que teve 1,95% de alta na prévia de setembro, pesando sobre o resultado dos Bens Intermediários (1,44%). O item é o que mais sofre pressão do câmbio e a soma de fatores foi responsável pelo avanço.
“O repasse dos aumentos está se processando principalmente na etapa intermediária, incorporando a variação cambial”, avalia Salomão Quadros. “Um indicador dessa avaliação é o item Bens Finais, também do IPA, que teve queda de 0,16%. O recuo foi puxado pelo preço do feijão, que apresentou queda de 20,36% na prévia de setembro. A maior alta da inflação de um modo geral está mais próxima do setor, na área de manufatura. Os indicadores mais próximos do consumo estão em desaceleração”, explica.
Já no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), o destaque, segundo Quadros, foi a alta do item Alimentos (-0,22% na prévia de agosto para 0,21% em setembro). As frutas foram as principais responsáveis pela alta, com avanço de 1,82%, ante queda de 3,48% na prévia de agosto. Houve alta também no item de vestuário, em função da alteração das coleções com a mudança de estações. Já no item transporte, que perdeu o impacto da queda nas tarifas de transporte, em junho, há uma desaceleração no preço do etanol e da gasolina, em função da safra recorde da cana.
A redução, segundo Quadros, já dá margem para um aumento dos combustíveis pela Petrobras, que sofre pressão da alta do dólar e aumento das importações. “Há uma melhora na perspectiva em termos de haver espaço para o aumento sem que isso perturbe a meta da inflação”, afirma Quadros. “A margem parece suficiente para um reajuste de maior fôlego, que suavize os problemas da Petrobras, mas esta é uma decisão de governo”, afirmou.