Inflação para mais ricos supera a dos mais pobres

A taxa de inflação para a população de maior poder aquisitivo foi bem mais expressiva do que a encontrada para a de menor renda na cidade de São Paulo em 2009. Segundo pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) por meio do Índice do Custo de Vida (ICV), enquanto a variação média acumulada do indicador foi de 4,05%, o índice específico para os mais ricos registrou taxa acumulada de 4,36% e o que retrata o custo de vida dos mais pobres apresentou variação de 3,75%.

Além do ICV geral, o Dieese calcula, mensalmente, mais três índices de inflação, segundo os estratos de renda das famílias da capital paulista. O primeiro grupo corresponde à estrutura de gastos de um terço das famílias mais pobres (com renda média de R$ 377,49); o segundo contempla os gastos das famílias com nível intermediário de rendimento (renda média de R$ 934,17). Já o terceiro reúne as famílias de maior poder aquisitivo (renda média de R$ 2.792,90). O grupo intermediário do ICV foi o que mostrou a taxa acumulada menos significativa em 2009. Segundo o Dieese, as famílias do segundo estrato conviveram com uma inflação acumulada de 3,55% no ano passado.

Em dezembro, o cenário de inflação, que mostrou uma taxa média de 0,08%, foi ainda mais favorável aos mais pobres. De acordo com o Dieese, o ICV do primeiro estrato foi negativo em 0,05%, o que representou uma desaceleração de 0,68 ponto porcentual ante a taxa positiva de 0,63% de novembro. No terceiro, de maior renda, a taxa de inflação foi de 0,14% ante uma variação de 0,59% do mês anterior. No grupo intermediário, o ICV passou de 0,61% para 0,00% entre novembro e o mês passado.

Na avaliação do Dieese, a inflação de 2009 não afetou as famílias de forma semelhante. Para o instituto, as taxas diferentes resultam de maneiras diferenciadas de as famílias distribuírem seus gastos, comportamento que varia de acordo com o poder aquisitivo. A pesquisa trouxe como exemplo a alta do grupo Habitação, que, no ICV médio de 2009, foi de 5,78%. O Dieese lembrou que esta variação acumulada teve origem, principalmente, nos bens e serviços públicos e/ou administrados e afetou proporcionalmente mais as famílias de menor nível de rendimento, pertencentes ao primeiro estrato, com contribuição no cálculo da sua taxa geral de 1,56 ponto porcentual.

“À medida que a renda das famílias cresce, a contribuições deste tipo de despesa cai, correspondendo a 1,32 ponto porcentual para o estrato 2 e a 1,27 ponto porcentual para o estrato 3”, explicaram os técnicos do instituto. “A queda só não é maior devido à alta nos serviços domésticos que afeta mais as despesas dos consumidores com maior poder aquisitivo”, complementaram.

Na Alimentação, que contou com uma variação acumulada média de 2,95% no ano passado, o Dieese constatou que os aumentos ocorreram, principalmente, no subgrupo da Alimentação Fora do Domicílio, causando maior prejuízo às famílias componentes do terceiro estrato, com contribuição no cálculo de sua inflação de 0,93 ponto porcentual. Em contrapartida, as quedas ou pequenas variações nos alimentos vieram a beneficiar mais os consumidores de menor nível de renda, resultando em impactos semelhantes e pequenos nas suas taxas, que ficou em 0,69 ponto porcentual para o primeiro estrato e em 0,71 ponto porcentual para o segundo.

O Dieese destacou que também chamaram a atenção as contribuições resultantes dos aumentos praticados em 2009 no grupo Educação e Leitura, que acumulou taxa média de 7,80% em consequência dos reajustes das mensalidades escolares. As famílias de maior poder aquisitivo, do terceiro estrato, despendem proporcionalmente mais com escolas particulares do que aquelas dos demais estratos. Desta maneira, as contribuições, no cálculo de suas taxas, apresentam um comportamento decrescente, de acordo com a renda familiar: 0,79 ponto porcentual para os mais ricos; 0,32 ponto porcentual para o grupo intermediário e de 0,28 ponto porcentual para os mais pobres.

Os aumentos médios observados nos grupos Transporte (3,22%) e Saúde (3,34%), que tiveram origem, respectivamente, na alta dos combustíveis e dos seguros e convênios médicos, afetaram mais as famílias com maior nível de rendimento e menos as com menor renda. Em conjunto, os dois grupos contribuíram com 0,72 ponto porcentual para a taxa do primeiro estrato; 0,83 ponto para a do segundo; e 1,10 ponto porcentual para o terceiro.