Rio – Os reajustes nos preços dos alimentos e dos combustíveis fizeram a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subir para 2,08% em novembro, mais que o dobro da variação de 0,90% registrada em outubro. Foi a maior alta no índice desde julho de 1995 (2,25%). Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e engrossaram as apostas de dois dígitos para o IPCA (meta oficial de inflação do governo) para este ano.
O IPCA-15 é calculado segundo a mesma metodologia do IPCA, diferenciando-se apenas no período de coleta. A pesquisa do índice divulgado hoje – considerado um “termômetro” para a inflação oficial do mês – ocorre do dia 15 do mês anterior a igual dia do mês de referência, enquanto a do IPCA é realizada ao longo do mês civil.
O membro do conselho consultivo do IPCA e economista da PUC-RJ Luiz Roberto Cunha acredita que a inflação oficial de novembro deverá registrar variação de 2,5%. “Esse será um mês de números ruins de inflação”, observou. Ele lembrou que o IPCA do mês, que será divulgado no início de dezembro, vai captar maior parte dos reajustes dos combustíveis, ocorridos a partir do início de novembro.
Cunha disse “não duvidar” de que a inflação medida pelo IPCA neste ano chegará aos dois dígitos, fechando o acumulado de 2002 em torno de 11%. “Dois dígitos pra mim já é um fato consumado”, afirmou. Para ele, a alta da inflação é preocupante porque está ocorrendo em cenário de reduzida atividade e fraca demanda. “A incerteza cambial infelizmente está muito forte”, disse.
Alimentos
Os dados do IPCA-15 de novembro mostraram que a pressão do dólar elevou os preços dos alimentos, com alta de 4,47% em novembro, ante 1,77% em outubro. Os principais destaques de alta foram açúcar cristal (30,83%) e refinado (27 07%), farinha de trigo (22,80%), arroz (11,87%), óleo de soja (10,61%), macarrão (9,64%), pão francês (9,78%), ovos (8,36%) e café moído (7,57%).
No caso dos combustíveis, a alta foi de 5,23%, refletindo nas bombas o início do repasse do reajuste de 12,09% ocorrido nas refinarias a partir do dia 4 de novembro. Houve aumento também no gás de cozinha (3,98%) e no álcool combustível (17,59%). Destacaram-se, ainda, segundo o IBGE, as passagens aéreas, cujos preços aumentaram 17,55%. No ano, a taxa do IPCA-15 ficou em 8,67% e nos últimos 12 meses, em 9,27%.
A divulgação do índice reforça a expectativa que o Brasil terá inflação anual de dois dígitos em 2002, fato que não ocorria desde a implantação do Plano Real. A elevação do custo de vida, pressionado principalmente pelos preços administrados pelo governo e pela disparada do dólar, afeta duramente a classe pobre do País, que vê seu poder de compra cada vez mais defasado.