A disparada da inflação dos alimentos, que afeta principalmente as famílias de menor renda, consideradas o pilar do crescimento do consumo nos últimos tempos, começa a prejudicar as vendas no varejo. O aperto no consumo pode reduzir em até 1,5 ponto porcentual as vendas reais do comércio varejista este ano, revela um estudo do banco Credit Suisse. No ano passado, o comércio cresceu 8% em termos reais, acima da inflação. Para este ano, Nilson Teixeira, economista-chefe do banco e autor do estudo, projeta três cenários para o desempenho das vendas do varejo.

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O traço comum entre os cenários é a redução do ritmo de crescimento de vendas na comparação com 2012. Se a inflação anual ficar em 5,6% – cenário mais provável, segundo o economista -, as vendas reais do varejo crescerão 7%. Se a inflação desgarrar e fechar o ano em 6,5%, o varejo terá expansão de 6,5%. No caso de a inflação ficar no centro da meta de 4,5%, a hipótese mais remota, o varejo crescerá 7,5%. “Crescimento real de 7% nas vendas ainda é um ritmo muito expressivo”, pondera Teixeira. Mas ele enfatiza que o aumento recente da inflação ao consumidor muito associado à expressiva alta de preços dos alimentos “eleva o risco de uma desaceleração das vendas no contexto do ritmo menor do aumento do salário mínimo em 2013 ante 2012”.

Quanto maior a inflação dos alimentos, pior o consumo das famílias de menor renda porque sobra menos dinheiro no bolso para compra de outros itens, diz Teixeira. O estudo traduz em números o impacto da inflação dos alimentos para os diferentes estratos sociais. Em 12 meses até fevereiro, a inflação de alimentos medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, indicador oficial da inflação) foi de 8,1% para as famílias com renda média mensal de R$ 830. No mesmo período, a inflação de alimentos e bebidas para as famílias com renda superior a R$ 10.375 acumulou alta de 6,6%. Teixeira explica que o impacto da inflação dos alimentos é maior entre as famílias mais pobres porque elas gastam mais que o dobro (32%) do seu orçamento com comida e bebida comparado com o desembolso das famílias mais ricas (15%) com esses mesmos produtos.

Com o orçamento mais apertado, as famílias estão cautelosas. Pelo 3.º mês seguido, o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) da Fecomercio-SP encerrou março com queda de 4,3% ante fevereiro. Segundo o assessor econômico da entidade, Guilherme Dietze, a retração foi influenciada principalmente pelo pessimismo do consumidor sobre a sua renda atual, afetada pelo aumento da inflação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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