A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) avançou para 0,86% em dezembro, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com isso, o índice oficial de inflação brasileiro encerrou 2004 em 7,60%, contra 9,30% em 2003. O resultado do ano passado superou o centro da meta estabelecida pelo Banco Central, de 5,5%, e ficou muito próximo de seu teto, de 8%. Das 11 regiões metropolitanas que fazem parte da pesquisa, os maiores índices do IPCA foram verificados em Curitiba (9,44%) e Goiânia (8,95%). São Paulo e Rio de Janeiro tiveram alta de 7,41% e 6,95%, respectivamente.
Desde a criação do sistema de metas de inflação, em 1999, o BC só conseguiu manter a inflação abaixo do centro da meta em 2000. Nos outros cinco anos, o objetivo central não foi atingido.
Para analistas de mercado, nos últimos anos o BC tem fixado metas muito rígidas para mostrar que não está disposto a tolerar a inflação. No entanto, durante o ano, o banco não faz o esforço necessário para alcançar essas metas porque seu cumprimento implicaria em juros muito altos e sacrifício ao crescimento da economia.
Para 2005, o CMN (Conselho Monetário Nacional, que reúne os principais membros da equipe econômica) estabeleceu uma meta de inflação de 4,5%, novamente com margem de erro de 2,5 pontos percentuais. No entanto, o BC avisou ainda no ano passado que trabalharia para que a inflação ficasse em 5,1% neste ano, praticamente abandonando o centro inicial da meta.
Mesmo assim, para garantir o cumprimento da meta de inflação de 2005, o BC lançou mão de quatro aumentos consecutivos da taxa básica de juros e elevou a Selic em 1,75 ponto percentual desde setembro.
De acordo com o último levantamento realizado pelo BC, o mercado aposta em um novo aumento de 0,5 ponto percentual em janeiro, o que elevaria os juros para 18,25%.
Pressões
No ano, o principal fator de pressão da inflação foi a alta dos preços internacionais de petróleo, que causou três reajustes dos combustíveis nas refinarias. A gasolina acumulou alta de 14,64% nos postos. Trata-se do maior impacto individual no IPCA, com participação de 0,59 ponto percentual no índice de 2004.
A alta nos preços da cana-de-açúcar em razão de problemas climáticos também pressionou o índice oficial de inflação. O álcool subiu 31,58%. Além disso, o aumento dos preços de insumos metálicos e derivados do petróleo contribuiu para elevar os preços dos automóveis novos, que subiram 13,65%, e dos eletrodomésticos, que avançaram 9,62%.
O consumidor teve que arcar também com a alta nas tarifas de energia elétrica, de 9,64%, e de telefone fixo, de 14,76%. Segundo o IBGE, a energia elétrica teve aumento significativo mesmo com a revisão tarifária favorável em algumas regiões e com a diminuição do valor da parcela da conta referente ao encargo de capacidade emergencial.
Em contrapartida, a boa oferta de produtos agrícolas, a valorização do real e a ausência de reajustes anuais de transporte público em algumas regiões ajudaram. O levantamento do IBGE é realizado em São Paulo, Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Brasília, Goiânia, Fortaleza e Belém. O índice se refere a preços de produtos e serviços consumidos por famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos.
Acumulado do Plano Real chega a 136%
A inflação acumulada no Brasil nos últimos dez anos atingiu 136%, segundo pesquisa divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nesse período, a economia brasileira enfrentou diversos choques – o último foi em 2002 com as turbulências eleitorais, quando o dólar explodiu e provocou reajustes generalizados dos produtos acima de 20%.
O cálculo do IBGE abrange a variação dos preços entre 1995 e 2004. No ano passado, a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), ficou em 7,60%. O instituto excluiu 1994 por considerar que parte de sua inflação refletiu fatores anteriores ao Plano Real, lançado em julho daquele ano.
O IBGE detectou que o expressivo aumento de preços em 2002, quando o dólar encostou em R$ 4, foi perdendo força ao longo de 2003, primeiro ano do governo Lula. Hoje, o dólar já não exerce mais tanta influência negativa no cálculo do índice oficial de inflação do país.
"A alta (do dólar em 2002) atingiu primeiro os alimentos. Depois foi se diluindo e atingindo outros preços", lembra a gerente da Coordenação de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Ela explica que, no ano passado, a queda do dólar foi essencial para segurar a inflação.
"A influência (da queda do dólar) se fez presente nos produtos em geral e principalmente nos alimentos, em razão da boa safra de produtos agrícolas."
Dos 512 itens que compõem o IPCA, a maioria (281) registrou aumentos de até 10% no ano passado. Segundo a técnica, a análise dos últimos anos aponta que os preços mantêm reajustes concentrados e persistentes na faixa de até 20%, motivados basicamente por aumento de custos.
Para a economista, o comportamento dos preços foi melhor em 2004 do que em 2003 porque houve um maior número de itens com baixos reajustes e até mesmo com quedas de preços, tais como arroz (-17,14%) e farinha de mandioca (-20,19%).
Tarifas públicas pressionam o índice em Curitiba
Os gastos com tarifas públicas representaram 40% do valor total da inflação verificada em Curitiba pelo IPCA (9,44%) em 2004. Os preços desses serviços (administrados e monitorados) variaram 13,68% no ano passado. As tarifas que mais influenciaram o índice foram: pedágio (39,34%), álcool (32,74%), energia elétrica (22,14%), telefone (15,48%), transporte coletivo (15,15%), água e esgoto (14,02%), gasolina (10,56%) e correio (10%), todos com números maiores do que a inflação no período. Este é o décimo ano seguido em que as tarifas pesquisadas ficaram acima da variação anual do IPCA. As informações foram divulgadas ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos do Paraná (Dieese/PR) e Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (Senge/PR).
Para o presidente do sindicato, Eroni Bertoglio, as altas acima da inflação verificadas no ano passado colocam as agências regulamentadoras em questionamento. "O governo tem pouca influência nas agências. Os preços são controlados por elas e ainda ficaram muito acima da inflação. Isso é uma sangria para o cidadão. Estão tirando renda do trabalhador, que paga cada vez mais pelo básico. O governo não está preocupado com isso", afirma.
Com esses aumentos, as entidades estimam que uma família curitibana gastou R$ 465,08 somente com serviços públicos no mês de dezembro. O peso das tarifas era de 16% da renda familiar em 1994 e, dez anos depois, o índice saltou para 32,49%. "Com a variação de 13,68% em 2004 e a de 8,37% em 2003, uma família passou a gastar R$ 87,58 a mais só com os aumentos nas tarifas públicas nos últimos dois anos", adverte Sandro Silva, economista do Dieese/PR.
Dos vinte produtos que mais contribuíram para a inflação em 2004, dez são administrados e monitorados: energia elétrica residencial, ônibus urbano, telefone fixo, gasolina, álcool, ônibus intermunicipal, taxa de água e esgoto, plano de saúde, empregado doméstico e imposto predial. "O que vem puxando a inflação é o serviço público, que compromete a renda do trabalhador", avalia Silva.
Dentro deste cenário, o coordenador do Dieese/PR, Cid Cordeiro, critica a meta inflacionária e a taxa de juros elevada determinadas pelo Banco Central. "A meta de inflação é muito baixa e, ao perseguir este patamar, aumentam-se o juros para diminuir o consumo. São dois erros. O Banco Central não faz a correta avaliação do peso dos preços administrados na inflação", comenta.
A entidade espera uma deflação de 0,09% em janeiro. Mas esse quadro pode ser alterado se o preço da gasolina voltar a subir. A estimativa não conta com o aumento da taxa básica de água e esgoto, normalmente comunicado pelo governo do Estado em janeiro. (Joyce Carvalho)
Os números do IPCA
Inflação de dezembro: 0,86%
Acumulado do ano de 2004: 7,60%
Acumulado do ano de 2003: 9,30%
Meta estabelecida pelo BC: 5,5% até 8%
Curitiba teve o maior IPCA: 9,44%